Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas
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Imagine cem jovens em uma sala. Imagine que eles representem os jovens brasileiros no início da vida adulta, entre 18 e 24 anos. Nessa fase da vida, esperaríamos que esses jovens já teriam concluído o ensino médio, estariam seguindo para o ensino superior ou já teriam ingressado no mercado de trabalho, tendo tido oportunidade de desenvolver as habilidades necessárias para tal. Infelizmente, isso não ocorre para todos de forma sistemática no Brasil.
Segundo dados recentes sistematizados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na publicação "Education at a Glance", 63 daqueles 100 jovens não estão matriculados em um curso de educação formal. E não são todos os que trabalham: ao menos 24 deles, além de não estudarem, também não trabalham. É a chamada geração nem-nem. Ou seja, um em cada quatro jovens brasileiros nessa faixa etária nem trabalha nem está em uma sala de aula.
A análise fica mais alarmante pelo recorte de gênero. Entre as jovens mulheres de 18 a 24 anos, 3 em cada 10 não estudam nem trabalham, sendo que duas delas não estão sequer buscando emprego ou ocupação. Esses números correspondem ao dobro da média dos países membros da OCDE. Não é socialmente aceitável ter tantos e tantas jovens sem perspectiva.
Investir em soluções públicas para apoiar a transição dos estudos para o trabalho dos jovens brasileiros, em especial das mulheres, implica entender as causas que culminam nesse desalento. No caso das mulheres, é inegável que há uma sobrecarga em tarefas domésticas, em especial para as jovens mães.
Por outro lado, alguns fatores afetam o processo de transição para o mundo do trabalho, independentemente do gênero. A qualidade do ensino básico recebido compromete sobremaneira as possibilidades futuras. Nos últimos anos, em especial, um ensino médio em eterna reforma, e ainda indefinido, corre grande risco de ter um efeito negativo nas vidas dos futuros profissionais. Além disso, esse efeito não é homogêneo entre gênero, raça e renda familiar.
O problema é multifacetado e as soluções também precisam ser. Investir na expansão da educação profissional e tecnológica é um caminho para fornecer ferramentas que os jovens possam de fato aplicar na vida adulta. Mas não é suficiente e, se mal implementado, pode gerar mais desigualdade.
Outras políticas necessárias envolvem, por exemplo, garantir acesso igualitário à educação superior, implantar estratégias para reduzir a evasão escolar e viabilizar o acesso a creches para jovens mães e pais.
Sem esses esforços múltiplos, vai ser difícil mudar a cara daquela sala de jovens.
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