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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

O caso Daniel Alves

Estupro deve ser punido com rigor de homicídio, pois acaba com a vida da pessoa

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A Justiça vai determinar se Daniel Alves cometeu crime sexual, as punições e o tempo de prisão. A presunção de inocência, prevista na lei brasileira, precisa ser respeitada aqui, sem ingenuidade nem leviandade. O testemunho da vítima tem sempre de ser prioritário.

Há mais do que indícios.

Mas quem condenará será a Justiça.

Isso posto, importante voltar para a questão central. É grave saber que muitas mulheres relatam que, não apenas elas, todas já foram vítimas de algum tipo de violência sexual. Seja um maníaco masturbando-se em sua frente, na rua, seja alguém que julga poder abordá-la na balada.

Não pode.

Não é não.

Daniel Alves em jogo pelo São Paulo em 2019 - Caio Rocha - 18.ago.19/iShoot/Folhapress

Robinho tem uma condenação por estupro.

Em 1987, quatro jogadores foram acusados —condenados dois anos depois— de praticar sexo com uma menina de 13 anos, na Suíça. O goleiro Chico consumou a relação, segundo os depoimentos. Foi condenado a três anos de prisão.

O atual técnico Cuca e o ex-zagueiro do Corinthians Henrique receberam 15 meses de pena, por estarem na cena do crime. O ponta Fernando, acusado de cumplicidade, pegou dois meses.

Estupro é crime hediondo. Na Suíça, a pena em 1987 era de seis a dez anos de cadeia. Talvez por erro do juiz, Chico pegou só três anos, Cuca e Henrique foram condenados a 15 meses, Fernando a dois.

Tecnicamente é errado dizer que os quatro têm condenação por estupro, o que não tira a gravidade da história.

Informação certa nunca é demais para um jornalista. A análise vem depois dela.

O caso Daniel Alves nos devolve a um debate ainda mais amplo do que o feito sobre machismo, gravíssimo por si só. Estupro deve ser punido com o mesmo rigor de homicídio, porque acaba com a vida de uma pessoa. Não é um problema feminino, mas da sociedade. Sobretudo tem de ser encarado pelos homens.

A cada afirmação de uma mulher de que não conhece outra que não tenha sido vítima de agressão sexual, de qualquer espécie, sinto-me como um potencial agressor. É como se cada pessoa pudesse me olhar como os policiais norte-americanos olham para um cidadão de origem muçulmana ao tentar entrar nos Estados Unidos.

Nem todo árabe é muçulmano, nem todo muçulmano é árabe, muito menos terrorista. Como o Ocidente foi vítima de atentados de organizações compostas por árabes e muçulmanos, qualquer pessoa com aparência do Oriente Médio ou com nome Mohammed é vista como possível terrorista.

Não ser justo, mas é justificável.

Assim como alguém observar um homem como possível agressor de uma mulher.

Eu?

Sim. Todos os que usamos o banheiro masculino.

Se condenado, Daniel Alves fará parte de uma lista de atletas superpoderosos e pop stars que inclui, por exemplo, Mike Tyson, condenado por estupro em 1992. Sua pena foi de seis anos, seu tempo na prisão menor do que três.

Quando o caso Robinho voltou à tona, expliquei a um senhor, numa mesa de bar, que um grupo de amigos viu a vítima embriagada e decidiu que poderia agredi-la sexualmente. Ao ouvir o depoimento, o colega eventual de mesa de bar disse: "Se isso é estupro, já estuprei muita gente".

Estava constrangido, não envergonhado.

Nós, homens, temos obrigação de mudar isso.

De outra cepa, era o hino informal dos garotos tímidos, da década de 1980. "Fórmula do Amor", de Leoni e Léo Jaime, falava sobre o menino que ensaiava, para conquistar. "Não posso compreender, não faz nenhum efeito", choramingava o protagonista da canção.

O sonho era cativá-la, jamais violentá-la.

Com licença, Mário de Andrade: respeitar, verbo intransitivo.

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