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Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça

Clube do Paraná impõe multa milionária para 'prender' jogadora sub-17

Toledo pede 10 milhões de dólares a clubes europeus por Ingrid, jogadora da seleção sub-17

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O sonho de todo menino é ser jogador de futebol. Dos milhões que sonham, poucos conseguem efetivamente realizar. E menos ainda conseguem transformar esse sonho em milhões (de euros ou de reais naquelas transações astronômicas que só o futebol de elite masculino proporciona).

Ser jogadora hoje já é um sonho possível para meninas, mas que ainda não vale milhões – na maioria dos casos. O mercado do futebol delas ainda está se consolidando, e não tem cifras comparáveis às do futebol masculino.

Nesse sentido, um caso chama a atenção. Uma atacante muito promissora está brilhando no Sul-Americano Sub-17 com a seleção feminina e já atrai olhares internacionais. Ingrid, ou melhor, Jhonson, como ficou conhecida, tem apenas 16 anos e é artilheira da competição, com 9 gols. Mais do que goleadora, ela é uma atacante completa: forte fisicamente, ganha fácil as disputas com as defensoras, é habilidosa e coloca as companheiras na cara do gol.

Ingrid Aparecida, conhecida como Jhonson, defende o Toledo e foi convocada para disputar o Sul-Americano Sub-17 - Adriano Fontes/CBF

Jhonson joga no Toledo, do Paraná. Um clube modesto, de pouca projeção no futebol feminino ou masculino. Era de se imaginar que, com tanto talento, ela chamaria a atenção dos principais clubes do Brasil e do mundo e logo vestiria a camisa de um deles. Mas é pouco provável que a atacante consiga se desvincular do time paranaense. O contrato profissional assinado no início deste ano rende a ela apenas um salário mínimo, mas o vínculo vai até 2025 e tem uma multa milionária.

O Toledo pede 10 milhões de dólares (cerca de R$ 54 milhões) para clubes europeus que queiram levá-la e 2 milhões de dólares (aproximadamente R$ 10 milhões) para equipes nacionais. E não faltaram propostas para contratá-la. Mas a multa milionária afasta qualquer possibilidade de transação neste momento.

Para se ter uma ideia, a maior transação do futebol feminino foi a de Pernille Harder, uma das melhores jogadoras do mundo, que foi contratada pelo Chelsea após ter feito uma carreira vitoriosa no Wolfsburg. O valor pago foi 300 mil libras (cerca de R$ 2 milhões).

No caso de atletas de 16 anos, ainda não "formadas" no futebol profissional, o mercado do futebol feminino ainda está tímido. Até pelo fato de a base feminina ainda estar em desenvolvimento no Brasil (com muito atraso, diga-se), essas transações de jogadoras mais novas começam a acontecer agora e, no geral, não envolvem valores exorbitantes como esses pedidos pelo Toledo.

Jaime Lira, técnico do clube paranaense e responsável pelo contrato milionário de Jhonson, sabe que esses valores são incompatíveis com o futebol feminino. "Isso é para protegê-la dos tubarões. Ela já está presa aqui", afirmou o treinador, que garante não querer "ganhar dinheiro" com a atleta porque não precisa disso. Questionado por que, então, havia estipulado uma multa tão alta, ele diz: "O futebol feminino não está nesse nível ainda, mas o clube pode ganhar".

O Toledo disputou apenas uma competição de base em 2021 (o Brasileiro sub-18). Sem jogar, ela poderia ficar fora da seleção sub-17, porque as atletas convocadas precisam estar disputando os torneios de base (que já não são muitos) para seguirem o processo de formação.

Jaime concorda que outros clubes brasileiros, como Internacional, Ferroviária e São Paulo, por exemplo, têm uma estrutura melhor do que o Toledo para desenvolver a base do futebol feminino. Mas reforça que Jhonson quer ficar ali. E considera importante a presença dela no estado para inspirar outras meninas da região.

Com talento indiscutível, Jhonson segue brilhando no Sul-Americano Sub-17. Mas, pelo visto, vai demorar um tempo até que possamos vê-la brilhar nos principais clubes do Brasil e do mundo. Os "tubarões" do futebol feminino estão à solta.

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