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Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

Descrição de chapéu LGBTQIA+

A obsessão dos pastores com a ilha deserta

Fragmentos de um discurso homofóbico

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No dia 19 de setembro, uma comissão da Câmara discutia um projeto de lei pela proibição do casamento homoafetivo. Foi quando o pastor Pastor Sargento Isidório (Avante-BA) recorreu a esta elaborada reflexão: "Homem nasce como homem, com binga, portanto, com pinto, com pênis. Mulher nasce mulher, nasce com sua cocota, sua tcheca, portanto sua vagina. Mesmo com o direito à fantasia, homem mesmo cortando a binga não vai ser mulher, mulher tapando a cocota, se for possível, não será homem".

Em seguida Isidório concluiu. "Pode botar dois homens numa ilha. Duas mulheres na próxima ilha. Que você, chegando lá, vai encontrar a mesma coisa. Coloque-se um homem e uma mulher numa ilha separada que lá vai se encontrar a procriação."

A obsessão dos religiosos evangélicos com a ilha deserta não é de hoje. "Vamos arrumar uma ilha deserta e mandar dois gays para lá. Quero ver se depois de anos haverá raça humana", disse Silas Malafaia em 2013. "Coloca essas pessoas numa ilha e depois de 50 anos volta para ver; não vai ter mais ninguém", declarou o vereador em Mato Grosso do Sul pastor Sérgio Nogueira, em 2014.

Não precisa nem evocar a imagem de Tom Hanks em "O Náufrago". A sugestão é tão descabida que basta imaginar a mesma situação com um casal hétero.

Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra de 28 de setembro de 2023 - Débora Gonzales/Folhapress

Coloque Victoria e David Beckham largados e pelados numa ilha deserta e depois de 50 anos volte para ver. Imagine desovar Angélica e Luciano Huck numa ilha deserta e dizer: "Procriem! Voltamos em 50 anos!".

Alguém imagina que, décadas depois, encontraremos uma prole saudável que planta, caça, constrói casas nas árvores, empreende e faz crossfit? Mas, mesmo que isso aconteça, os pastores sugerem que os filhos procriem entre si? Duvido.

Aos fatos: em 2016, o casal Linus e Sabina Jack "arrumou" uma ilha deserta no oceano Pacífico. Durante duas semanas, 14 navios e dois aviões foram mobilizados. O casal hétero foi resgatado depois que oficiais da Marinha americana sobrevoaram o local e leram o sinal de SOS escrito na areia. Não houve clima para procriação.

A lista de argumentos baseados na realidade é bastante longa. Mas, se quisermos embarcar no delírio da ilha deserta, ainda é possível formular uma pergunta: "Vamos arrumar uma ilha deserta e mandar um casal de pastores evangélicos para lá. Quero ver se depois de 50 anos alguém estará rico. Ou tenha sido eleito deputado".

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