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Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

Janones no país das rachadinhas

Quando todos querem ter razão, ninguém fica com ela

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É como diz o milenar provérbio chinês: "Alimentar a polarização pode provocar rachadinhas".

As denúncias de rachadinhas envolvendo o deputado André Janones provocaram um bug na Matrix. Um curto-circuito. Botaram a polarização num beco sem saída.

Do lado direito da arena, bolsonaristas vagam por becos e vielas com o olhar vazio e desamparado de um botafoguense. Afinal, reconhecer a gravidade das rachadinhas é fatal para quem se acostumou à enérgica posição de cheerleader de Flávio Bolsonaro.

Do lado esquerdo do ringue, petistas mais desamparados que internauta que paga por selo azul no ex-Twitter. A primeira reação de Gleisi Hofmann, presidente do PT, foi acusar a extrema direita e sair em defesa do deputado André Janones. Ao diminuir a gravidade das denúncias, Gleisi cai na armadilha polarizante de beneficiar os bolsonaristas.

Independente do lado do tablado, o bug na Matrix geralmente trava o sistema e exibe a seguinte mensagem de erro: "As informações foram retiradas de contexto".

Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra de 30 de novembro de 2023 - Débora Gonzales/Folhapress

Infelizmente, são poucas as esperanças de um reboot geral no sistema que reinicie tudo e nos liberte do binarismo empobrecedor. Num país polarizado, em que tudo se resume a defender um território, todos julgam ter razão.

"Quando todos querem ter razão, ninguém fica com ela" (provérbio sorocabano).

Num país rachadinho, as instituições são sequestradas por ambições pessoais. Juiz pune sem provas, mas com convicção, e por aí vai. E tudo isso alimenta um ciclo monstruoso. Tudo isso culmina num STF personalista. Em terra polarizada, vale mais indicar dois cães de guarda do que resgatar a higidez da instituição.

Num país rachadinho, você forma sua opinião a partir das pessoas envolvidas. Não dos fatos.

Num país rachadinho, o debate sobre a prática de rachadinhas recai somente sobre as pessoas envolvidas. E não sobre os sintomas e os terríveis danos da prática de rachadinhas.

"Um país rachadinho caminha para dar mais relevância aos juízes do que à lei" (provérbio brasiliense).

Afinal, num país rachadinho, não importa mais o que você fez. Só conta de que lado você está.

Recadinho final aos leitores que ainda estão tomados pela lógica polarizante: o ponto dessa coluna, por incrível que pareça, não é cravar se Janones ou os Bolsonaro são culpados ou inocentes. Se os sintomas persistirem, releia a coluna.

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