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Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

O ano de 2023 carregou o estado de ressaca no DNA, entre a alegria e a tristeza

Foi como se fosse um hiato entre a fantasia e a realidade, uma pausa para enzimas, neurônios, hormônios, desejos e fruições

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Depois de uma certa idade, já não se sabe mais se o corpo apresenta sintomas de ressaca ou de chikungunya.

Não é só o corpo que inflama, reage, dói. A ressaca parece nos transportar para um estado de decantação. Tudo requer calmaria. Silêncio. Suavidade. Distensão. Ócio.

Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra - Débora Gonzales

É nesse estado de espírito que amizades, amores, certezas absolutas podem ganhar novas perspectivas. Memórias brotam distantes e desconexas, permitindo novos arranjos, novos olhares.

A ressaca quase sempre vem depois de um momento de intensa alegria ou tristeza. É como um hiato entre a fantasia e a realidade. Uma pausa para as enzimas, neurônios, hormônios, desejos e fruições.

O ano de 2023 carregou o estado de ressaca no seu DNA. Pelo imenso porre bolsonarista, pelos efeitos a longo prazo da pandemia, pelas farras irresponsáveis com o meio ambiente. O ano passou como um domingo quente, dolorido, em que o corpo e a cabeça não param de pensar nos trabalhos atrasados, boletos acumulados, nas memórias que passam como num scroll, na falta de sentido. Num certo estado catatônico geral no Brasil.

Alguns fatores, que chegaram em momentos de clímax aparentemente sem desfecho, ajudam a perpetuar essa ressaca.

A overdose de telas e a hipercomunicação faz com que tudo pareça urgente e indispensável. Ao mesmo tempo, claro, tudo se torna fugaz e, ironicamente, dispensável. Parte da ressaca se dá pela sensação de diluição do mundo real.

A sensação de que as importantes pautas identitárias não souberam se transformar à medida que foram transformando a sociedade também causa uma sensação de exaustão. Ainda é tempo de cancelamento? De silenciamentos? De que maneira as conquistas podem alimentar ainda mais conquistas?

Continuamos vendo o centrão engolindo toda forma de poder público num buraco negro. O público se transformar em privado nas mãos de criminosos na política, na sociedade (em forma de milícias), na CBF e nas empresas privadas que passaram 2023 com escândalos fiscais, ambientais e sociais desastrosos.

A novidade do ano, no entanto, foi uma filosofia capaz de vencer a polarização com arte, coragem e muito trabalho. Capaz de olhar para as pessoas além de números, interesses e rendimentos. Capaz de promover bem-estar, orgulho e ascensão social. Uma ideia original brasileira que encantou o mundo em 2023: o Fluminense de Fernando Diniz foi um Engov onírico.

Que venham mais ideias originais para vencermos a ressaca antes que 2024 acabe.

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