Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

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O que não aconteceu em 2023

Neste ano, o presidente não atacou a vacina nem fez ameaça de golpe

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São Paulo

Faz um ano que o Brasil acordou do pesadelo bolsonarista. Lula tem seus problemas, claro. Mas final de ano é tempo de colocar as coisas em perspectiva.

Ilustração de Débora Gonzales para a coluna de Renato Terra de 22 de dezembro
Ilustração de Débora Gonzales - Débora Gonzales

Por isso, é hora de celebrar o livramento. É hora de comemorar, simplesmente, o que não se repetiu em 2023.

Janeiro. Nenhum dos ministros indicados tinha Olavo de Carvalho como guru. Os filhos do presidente não escreveram barbaridades lisérgicas e cheias de ressentimento nas redes sociais.

Fevereiro. Ninguém falou em "golden shower". O ministro da Educação não cometeu erros básicos de português.

Março. Não houve desincentivo à vacinação. Nenhum membro do governo insinuou que uma jornalista teria praticado sexo anal para obter um furo de reportagem.

Abril. A ministra do Meio Ambiente não aproveitou um momento conturbado para "passar a boiada". Nenhuma ameaça de golpe de Estado foi feita. A Fundação Palmares não foi racista.

Maio. A cloroquina não foi empurrada como tratamento para Covid, tétano, depressão ou prisão de ventre. O presidente não cogitou indicar um de seus filhos para a embaixada brasileira em Washington.

Junho. Nenhum membro do governo se autoproclamou "imbrochável". O presidente não pediu sigilo de cem anos sobre seu cartão de vacinação.

Julho. Ninguém foi obrigado a ouvir um sanfoneiro desafinado. Caiu em desuso a expressão "gabinete do ódio".

Agosto. O presidente não recebeu esculturas, desenhos e quadros de padrão estético duvidoso. Os graves conflitos internacionais não foram tratados por um aluno da quinta série.

Setembro. O desfile da Independência não se transformou num circo populista e cafona. O ministro da Economia não ridicularizou empregadas domésticas que sonham em ir à Disney.

Outubro. O presidente não mostrou uma caixa de cloroquina para uma ema. Nenhum conselheiro do presidente insinuou que as músicas dos Beatles foram compostas por Theodor Adorno.

Novembro. O presidente não xingou homossexuais. Nenhuma joia saudita ficou presa na alfândega.

Dezembro. Não se falou em voto impresso e auditável. Diante das inúmeras fatalidades que aconteceram em 2023, o presidente não reagiu dizendo: "Eu não sou coveiro".

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