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Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

Um tamanduá antissistema

A revolução dos bichos que George Orwell não previu

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Amália e Susana saíam cedo todos os dias em busca de alimento. Enfrentavam túneis superlotados até chegar à superfície, onde vagavam à mercê de toda sorte de predadores. Quando retornavam, viam uma divisão injusta de comida beneficiar a Rainha, os machos e as fêmeas aladas.

"Somos operárias do comunismo", reclamou Amália. A mensagem viralizou por todo o formigueiro. Em pouco tempo, grupos de operárias trocavam mensagens contra o establishment. Susana e Amália viraram influencers. Crise no formigueiro.

Susana partiu para o empreendedorismo e abriu um novo formigueiro startup que fazia delivery de alimentos. Amália passou a oferecer serviços de segurança privada. Conseguiram adesão de várias formigas que deixaram de ser operárias do formigueiro para serem operárias de Susana e de Amália.

Em pouco tempo, as operárias de Susana e Amália viram suas rotinas se tornarem ainda mais cansativas. E o acesso aos alimentos, cada vez mais difícil. Mas o exemplo de Susana incendiou as ambições individuais. Bastava estipular uma meta e trabalhar duro para realizar o sonho de terem seus próprios formigueiros.

Uma nova configuração tomou forma. Quem quisesse comida deveria seguir as regras impostas no formigueiro dominado por Susana. Quem quisesse segurança deveria recorrer a Amália. A maioria das formigas ficou sem ter onde morar. Os sonhos individuais caíram por terra quando se confrontaram com a realidade de que não existem formigueiros sem formigas.

"Somos operárias do sistema", reclamou Daniela. A mensagem viralizou. Em pouco tempo, grupos trocavam mensagens contra o establishment. Daniela virou influencer: "A vida das operárias continua a mesma exploração de sempre. Vocês precisam pensar numa alternativa fora do sistema".

Pelas redes sociais, Daniela apresentou a solução em vídeos curtos, editados, que mostravam um salvador imponente, gigantesco, mítico. Num raciocínio desconexo e picotado, mas sublinhado por uma oratória ressentida, Daniela cravava que era preciso fazer algo fora da caixa.

Foi aí que Daniela convenceu as formigas a serem governadas por um tamanduá. Amália, Susana e a Rainha alertavam sobre os perigos de o tamanduá comer todo mundo. Os avisos tinham efeito reverso e insuflavam as operárias. "Quanto mais temido pelo sistema, melhor", pensaram, minutos antes de serem sugadas por uma língua pegajosa.

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