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Formigas amputam as pernas de companheiras para salvar a vida delas; veja

Insetos parecem saber quais ferimentos tratar, segundo estudo publicado nesta terça

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Annie Roth
The New York Times

A vida de uma formiga Camponotus floridanus pode ser brutal. Elas são territoriais e lutam violentamente com formigas de colônias rivais.

O confronto pode deixá-las com lesões nas pernas. Mas cientistas descobriram que elas adotam um tratamento eficaz para isso: amputação.

Em estudo publicado nesta terça (2) no periódico Current Biology, pesquisadores relataram que elas mordem os membros feridos de suas companheiras de formigueiro para evitar infecções.

Embora outras espécies de formigas sejam conhecidas por cuidar das feridas umas das outras, geralmente lambendo-as para limpá-las, esta é a primeira vez que se sabe de uma espécie de formiga que recorre à amputação para tratar uma lesão.

Imagem de várias formigas sobre uma superfície branca. As formigas são de cor marrom com abdômen preto. Algumas estão interagindo entre si.
Formigas observadas em estudo que mostrou que elas amputam as pernas daquelas que estão feridas - Dany Buffat/NYT

As formigas observadas no estudo fizeram amputações só em certas lesões nas pernas, sugerindo que são metódicas em suas práticas cirúrgicas —além dos humanos, nenhum outro animal é conhecido por realizar tais amputações. A prevalência desse comportamento entre as formigas C. floridanus levanta questões sobre sua inteligência e capacidade de sentir dor.

No início de 2020, Dany Buffat, estudante de pós-graduação na Universidade de Würzburg, na Alemanha, estava observando uma colônia de formigas C. floridanus em seu laboratório quando notou algo estranho.

"Uma formiga estava mordendo a perna de outra", disse Buffat, hoje biólogo na Universidade de Lausanne, na Suíça, autor do estudo. Seu orientador em Würzburg, Erik Frank, não acreditou nele a princípio.

"Mas, então, ele me mostrou um vídeo e eu soube imediatamente que estávamos diante de algo", disse Frank.

Eles começaram a rastrear a taxa de sobrevivência dos amputados. Inesperadamente, as formigas com membros removidos sobreviveram 90% das vezes.

Ainda mais surpreendente, as amputações pareciam ser consensuais. "A formiga apresenta sua perna ferida enquanto outra a arranca", disse Frank. "Assim que a perna cai, a formiga apresenta a ferida recém-amputada e a outra formiga termina o trabalho limpando-a."

Após observarem dezenas de amputações, os pesquisadores notaram que as formigas utilizavam o procedimento somente em companheiras com lesões na coxa.

Para entender por que da amputações apenas naquelas com coxas feridas, eles efetuaram amputações em formigas com ferimentos em partes inferiores da perna. A taxa de sobrevivência nesse caso foi de 20%.

"Quando a ferida está mais distante do corpo, as amputações não funcionam, mas quando está mais próxima do corpo, funcionam", disse Frank.

Isso foi contraditório, segundo Frank. Contudo, uma explicação surgiu após microtomografias computadorizadas nos amputados.

As formigas possuem vários músculos por todo o corpo que mantêm a hemolinfa, sua versão do sangue, fluindo. As C. floridanus têm muitos desses músculos nas coxas. Quando sofrem uma lesão na coxa, o fluxo de hemolinfa é reduzido, tornando mais difícil para as bactérias se moverem da ferida para o corpo. Nesses casos, se a perna inteira for amputada rapidamente, a chance de infecção é muito baixa.

No entanto, quando uma formiga se lesiona em áreas inferiores das pernas, as bactérias podem penetrar rapidamente em seu corpo. Como resultado, a janela de tempo para uma amputação bem-sucedida é estreita e a chance de sucesso, pequena. As formigas, em algum nível, parecem estar cientes disso, de acordo com Frank.

"É louco pensar que animais tão simples como formigas poderiam ter desenvolvido um comportamento tão complexo", disse Daniel Kronauer, professor associado na Universidade Rockefeller em Nova York, que estuda formigas e outros organismos altamente sociais, porém não esteve envolvido na pesquisa. "Mas não ficaria surpreso se outras espécies de formigas tivessem um comportamento semelhante."

Tais amputações beneficiam toda a colônia ao salvar vidas e conter a propagação de patógenos, afirmou o docente.

"Cerca de 10% a 20% das formigas que saem para caçar acabam se ferindo ao longo de suas vidas. Se as colônias não tivessem desenvolvido estratégias para ajudá-las a se recuperar, precisariam produzir de 10% a 20% mais formigas para compensar essa perda", disse Frank. "Ao resgatarem os feridos, elas economizam uma quantidade enorme de energia da colônia."

Frank, que passou sua carreira estudando como as formigas tratam ferimentos, diz que as descobertas de seu novo estudo mudaram sua visão sobre os insetos.

"Isso me fez apreciar o valor que uma formiga individual tem em uma colônia e o quão benéfico é cuidar dos feridos em vez de simplesmente deixá-los para morrer", disse ele.

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