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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Descrição de chapéu
AIDS

Bolsonaro inventou uma notícia e depois inventou que não tinha inventado

Alambique de idiotice, presidente é um jogo do telefone sem fio em forma vagamente humana

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Creio que já manifestei aqui a minha preocupação pelos historiadores do futuro que, daqui a muitos séculos, resolverem estudar a nossa época.

O que acontecerá quando, ao escreverem as suas obras sobre o Brasil do início do século 21, derem por si a compor frase "e depois o presidente afirmou que as pessoas totalmente vacinadas contra a Covid-19 desenvolviam Aids muito mais rápido do que o previsto"?

Vão querer verificar novamente as fontes, pedir a um amigo para se certificar de que eles não estão com febre, confirmar que um colega mal intencionado não forjou um jornal de 2021 para os lançar numa pista falsa? Provavelmente.

Publicada neste sábado, 30 de outubro de 2021 - Luiza Pannunzio

Não vai ser fácil acompanhar o que se passou agora quando já todos tivermos morrido porque eu ainda estou vivo e tenho muita dificuldade. Primeiro, Bolsonaro inventou uma notícia e depois inventou que não tinha inventado.

Eu estou habituado a ler ficção, mas nunca vi uma capacidade de efabulação como esta. Bolsonaro avançou com uma teoria absurda, os jornais confirmaram que era absurda, e a seguir ele indignou-se porque tinha lido a notícia nos mesmos jornais que agora o acusavam de espalhar informação falsa. Havia apenas um pequeno problema: os jornais não tinham dito aquilo que ele disse que diziam.

Será que o leitor ainda consegue acompanhar-me? Talvez seja mais fácil explicar assim: Bolsonaro é um jogo do telefone sem fio em forma humana. Enfim, vagamente humana.

Todo o mundo conhece a brincadeira: uma pessoa segreda uma frase ao ouvido de outra, que por sua vez a segreda a outra e assim sucessivamente. Quando a última pessoa ouve a frase, ela é muito, muito diferente da frase original.

Bolsonaro consegue fazer isso sozinho: lê uma frase no jornal, processa a informação e, quando a reproduz numa live do Instagram, ela já não tem nada a ver com o que ele leu.

Há qualquer coisa de admirável nisso. É um alambique de idiotice. Uma coisa entra sensata pelos ouvidos e sai obtusa pela boca. Quando lhe chamaram mito, os apoiadores de Bolsonaro falharam, mas não por muito. Bolsonaro não é o mito. É o mito urbano.

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