Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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O governo só investe nas vacinas se as vacinas investirem no governo

Podemos não estar vacinados contra o coronavírus, mas temos a imunização completa contra suspeitas de corrupção

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As suspeitas de corrupção envolvendo a compra de vacinas contra a Covid-19 provocaram em todo o mundo uma indiferença que me enche de esperança. Podemos não estar vacinados contra o coronavirus, mas, em relação a suspeitas de corrupção, temos a imunização completa.

Antigamente, a gente ainda tinha sintomas: dor de cabeça, palpitações, raiva. Agora, mesmo os piores casos não provocam muito mais do que um bocejo.

Sim, é possível que tenha havido corrupção. Passe as batatas, por favor. Alguém terá querido lucrar com a nossa miséria. Sim, e o seu dia, como foi?

Admito que o tratamento foi um pouco caro. A vacinação contra os efeitos nocivos da corrupção foi longa e dispendiosa. Foram aplicadas várias doses que, no início, ainda nos provocavam algum atordoamento. Mas valeu a pena porque agora somos confrontados com suspeitas graves e já não sentimos nada.

Sinceramente, se for confirmado que responsáveis do governo tentaram negociar um contrato de compra de 400 milhões de vacinas a troco de uma propina de US$ 1 por dose, fico satisfeito.

As empresas que produzem e distribuem vacinas teriam de pagar ao governo bilhões de reais para que a sua vacina fosse a escolhida. O que significa que o governo Bolsonaro só investiria em vacinas se as vacinas investissem no governo Bolsonaro --o que me parece justíssimo.

Ilustração de Jair Bolsonaro e outro homem segurando um grande CPF com uma faixa vermelha, na qual está escrito "CANCELADO". No alto, a pergunta: QUANTAS PESSOAS ESTARIAM HOJE VIVAS SE BOLSONARO TIVESSE INVESTIDO EM VACINAS?.
Publicada neste sábado, 3 de julho de 2021 - Luiza Pannunzio/Folhapress

Quando o escândalo eclodiu, e um diretor do Ministério da Saúde foi acusado de pedir propina, Bolsonaro pôs imediatamente em prática um plano com duas medidas: 1) dizer que era tudo mentira; 2) exonerar o diretor. Muita gente considerou que o plano era incoerente, visto que, se as alegações eram falsas, o diretor estava inocente. E, por isso, puni-lo seria injusto.

Talvez a ideia tenha sido jogar pelo seguro e, usando de cautela (por ventura excessiva), afastar rapidamente o responsável acusado de ter cometido ilegalidades. No entanto, garantindo ao mesmo tempo que a acusação é falsa, Bolsonaro arrisca-se a ser mal interpretado. Gente maldosa pode dizer que ele exonera o diretor, não apesar de a acusação ser falsa, mas precisamente por causa disso. Precisávamos de uma vacina contra a maldade.

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