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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Pelé nos deu tanta alegria que as pessoas contam às gerações seguintes

Era homem brasileiro e deus grego; como homem, jogava futebol, e como deus, indicava aos outros o seu destino

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A propósito do que o futebol significa para o povo, J. B. Priestley escreveu, no romance "The Good Companions", uma frase célebre: "Definir o futebol como 22 mercenários a correr atrás de uma bola equivale a dizer que um violino é madeira e corda de tripa, e que o ‘Hamlet’ não é mais do que papel e tinta".

Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araujo Pereira - Luiza Pannunzio

A tradução talvez não seja das mais competentes, até porque fui eu que a fiz, mas é mais ou menos isso. Sempre que algum impertinente trata a bola com desprezo sobranceiro, imagino o sr. Priestley
a rir-se dele e rio também.

Em 1958, após a final Brasil-Suécia em que ele tinha feito dois gols, um moço de 17 anos chamado Edson Arantes do Nascimento chorava nos braços de Gilmar. Em 1970, após marcar o primeiro gol da final entre Brasil e Itália, um homem chamado Edson Arantes do Nascimento ria nos braços de Jairzinho.

Em ambas as ocasiões, o tal Edson parecia manifestar incredulidade e surpresa. Em 1958 ele não queria acreditar que já era Pelé aos 17 anos, e em 1970 ele estava perplexo por continuar a ser Pelé aos 30.
Ele era multinacional: homem brasileiro e deus grego. Como homem brasileiro, jogava futebol; como deus grego indicava aos outros o seu destino.

A final de 1970 é um bom exemplo. No terceiro gol, Gerson chutou para a grande área e Pelé, de cabeça, revelou a Jairzinho o lugar exato onde iria estar segundos depois. No quarto, Pelé recebe a bola de Jair e depois profetiza que Carlos Alberto irá aparecer, sem que naquela altura alguém suspeite, 20 metros mais adiante.

Creio que o que se agradece a Pelé é, muito simplesmente, a alegria. Acho que é isso. Pelé deu muita alegria a muita gente muitas vezes. Uma alegria muito intensa, que as pessoas contam às gerações seguintes, como se faz com todas as outras coisas mesmo importantes. A alegria é muito improvável, e uma alegria tão fulgurante é quase impossível.

É isso que a gente agradece.

No dia da sua morte, a Folha registrou o óbvio: todo o mundo todo sabe quem foi Pelé. Mas Edson Arantes do Nascimento parecia nunca ter deixado de se surpreender com o fato de lhe ter calhado a ele ser Pelé. Quem não se surpreenderia com um destino desses?

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