Siga a folha

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Descrição de chapéu

Lula enfim uniu o país ao criticar porções pequenas e a comida de palácio

Hoje, quando vou a restaurantes, sinto que não tenho formação acadêmica suficiente para comer os pratos que chegam à mesa

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Já não era sem tempo! Esperava por isso há anos e enfim aconteceu. Por vezes criticamos os políticos por não se dedicarem a resolver os verdadeiros problemas do povo, mas desta vez o presidente Lula fez o que esperamos dele. Foi um líder, fez um discurso empolgante, uniu o país inteiro.

Quero ver quem é que discorda das suas palavras, quem é que não se emocionou com a sua revolta. Na entrevista Conversa com o Presidente, Lula criticou a "comida de palácio" que come quando visita altos dignitários estrangeiros e se queixou do tamanho das porções oferecidas.

"Tudo é pequenininho", disse o presidente. E afirmou: "Tudo é sofisticado, às vezes você nem sabe o que é". E concluiu dizendo que prefere rabada, galinhada ou feijoada.

Vieram-me lágrimas aos olhos. Lula tem toda a razão. Defendo há muito tempo que comida a sério é designada por uma palavra apenas. Feijoada. Galinhada. Rabada. Moqueca. Vatapá. Bacalhau.

Mas agora os restaurantes servem só comida de palácio. Cada prato leva dez linhas a descrever. Deixou de haver bacalhau, há lascas de bacalhau braseado em cama de espinafre com um purê de grão e espuma de caviar.

Quando a refeição chega à mesa, eu sinto que não tenho formação acadêmica suficiente para a comer. Alguém sabe como se come espuma? Já agora: alguém sabe por que é que se come espuma?

E as porções são, sim, muito pequenas. A minha experiência me diz que quanto maior é a descrição, menor o prato. Quanto mais palavras usadas, menos comida é oferecida.

Ora, talvez isso seja surpreendente, mas eu não quero ler no restaurante, quero comer. Ler no restaurante faz tanto sentido como comer na biblioteca. Cada atividade tem o seu espaço. Caprichem nos ingredientes, poupem na prosa. Concentrem-se na comida.

Cozinhem, por favor. Parece um pedido absurdo, mas é necessário. Há restaurantes em que já ninguém cozinha. Os cozinheiros "reinterpretam" o vatapá ou "desconstroem" a feijoada. Que moda é essa?

Sabe quem chega em casa e diz "olha só, já são 19h30, é melhor começar a desconstruir o jantar"? Quem diz "não se atrasem a vir para a mesa, porque assim a minha reinvenção vai acabar esfriando"? Ninguém.

Já era altura de o poder político fazer alguma coisa sobre essa vergonha. Vai, Lula. Estamos juntos. Para a mesa.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas