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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Descrição de chapéu Portugal União Europeia

Antigo imigrante ilegal agora está a serviço de um partido anti-imigração

Antes de chegar a Portugal, o deputado Marcus Santos tinha emigrado para os Estados Unidos, onde foi detido duas vezes

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Nas eleições portuguesas do passado dia 10, o partido de extrema-direita foi o terceiro mais votado e elegeu 50 deputados. Um deles é brasileiro. Marcus Santos agora ocupa um lugar no parlamento português a serviço de um partido que é anti-imigração.

Antes de chegar a Portugal, Marcus Santos tinha emigrado para os Estados Unidos, onde foi detido duas vezes. "Fraud immigration", dizia o registro de detenção. Nas fotografias que a polícia americana tira dos detidos, Marcus Santos não parece feliz. Em ambas tem um ar preocupado, até um pouco assustado, talvez.

Só agora sabemos que, afinal, ele pensava: "Ah, quem me dera fosse eu a tirar essa foto, a atemorizar um estrangeiro." Daí o seu semblante apreensivo. Estaria provavelmente calculando quantos anos faltariam para que pudesse atormentar um imigrante e concluiu que, entre ser desempregado na Flórida e deputado em Portugal, ainda passariam 20 longos anos.

Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de João Pereira Coutinho de 24 de março de 2024 - Folhapress

Além de antigo imigrante ilegal, Marcus Santos é um cristão evangélico. Ele venera Jesus Cristo, provavelmente o mais famoso imigrante do mundo. Quando descobrem que Herodes planeja matar todos os recém-nascidos da região, Maria e José decidem fugir para o Egito. São uma família de refugiados que opta por emigrar, em busca de uma vida melhor. Acontece muito.

Se, além dos Reis Magos, também Marcus Santos estivesse na manjedoura, talvez tivesse desencorajado os pais de Jesus. Marcus defende que as pessoas devem submeter-se cegamente aos costumes do lugar para onde vão, mas Jesus tinha umas ideias bem disruptivas, e não estava disposto a abdicar delas.

O melhor era ficar quieto.

Num congresso do Chega, o partido pelo qual foi eleito, Marcus subiu ao palanque para fazer um discurso. Dirigindo-se aos jornalistas presentes na sala, disse: "Se este partido fosse racista, eu não estaria aqui; se fosse homofóbico, vocês não estariam aí." Toda a plateia riu alto e aplaudiu, porque era muito engraçado: ele estava sugerindo que jornalistas são tudo viadagem —um insulto bem pesado. Ser homossexual é um defeito grave, como todo o mundo sabe. Talvez seja até pior do que ser imigrante, se isso é possível.

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