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Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

Falta de educação

Se o MEC fizesse seu trabalho, alunos teriam plano de dados para aulas no celular

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Sem aulas, sem salário. Essa é a realidade de longo prazo de dezenas de milhares de estudantes universitários.

Educação universitária é mais do que porta de entrada no mercado de trabalho, mas no Brasil parece que temos vergonha de dizer para nossos alunos que o diploma ajuda a arrumar um emprego melhor.

Para todos aqueles que precisam completar seus estudos a fim de melhorar de vida, a pandemia vai durar a vida inteira, seja por adiar o primeiro emprego, seja por criar mais um obstáculo para subir na carreira.

Campus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) na Praia Vermelha após suspensão das aulas, em março - Ricardo Borges - 13.mar.20/Folhapress

Não conheço outro país no qual as faculdades simplesmente encerraram o semestre pela pandemia. Todos, ricos ou pobres, criaram formas de os alunos continuarem a assistir às aulas.

Não é difícil traçar as linhas entre a má gestão da coisa pública e os seus efeitos imediatos. Mas o desastre brasileiro é o acúmulo de péssimas escolhas que vão nos custar muito caro lá na frente.

O exemplo mais claro é a falta de uma política centralizada de apoio aos estudantes mais pobres para ensino remoto nas universidades públicas.

No Brasil, falta conhecimento sobre o básico de ciências econômicas. Custo de oportunidade é o principal conceito que todo brasileiro deveria conhecer. O maior custo de as universidades estarem fechadas não é o salário dos profissionais ou a infraestrutura. É a perda dos milhões de alunos, que mais uma vez são os prejudicados pela burocracia brasileira.

Outro exemplo de oportunidades perdidas vem do fato de que, nas universidades públicas fora do Brasil, feiras de empregos e adequação do currículo à realidade do mercado de trabalho são integrados ao processo de ensino.

Nas universidades públicas dinamarquesas, o presidente da instituição escreve com orgulho sobre a feira de empregos que teve participação recorde de empresas disputando os formandos. Aqui, há muito asco à ideia de que universidade serve para preparar para o mercado de trabalho.

O exemplo mais recente do descaso com custo de oportunidade é da ajuda aos alunos mais pobres. As cotas foram mecanismos fundamentais para integrar parte do público que antes não conseguia entrar na universidade pública. Mas muitos não conseguem manter os estudos porque precisam continuar trabalhando para poder sobreviver. O custo de ficar sem aulas, para muitos estudantes, é imenso.

A culpa dessa situação também é das universidades, não só do MEC. Pior, o argumento mais usado para manter as universidades sem aulas é equidade: como nem todos os alunos teriam acesso à internet, todo o mundo fica sem aulas.

Mas essa não é uma questão insolúvel. Se o MEC fizesse seu trabalho, alunos teriam, no mínimo, plano de dados para assistir às aulas no celular. Isso nem de perto replica a experiência em sala de aula, mas seria parte de um plano integrado voluntário de aulas online que aceleraria a formatura daqueles que escolhessem esse caminho. Mesmo um currículo reduzido, com matérias mais ligadas ao mercado de trabalho, poderia acelerar a formatura de quem aderisse.

Quem sofre mais com a situação atual? Os mais pobres, é claro. As universidades deveriam ter aulas online, com auxílio para os mais pobres poderem acessar o conteúdo.

A Unicamp transferiu vários dos seus cursos para o modo online. Já passou tempo suficiente para as instituições se adaptarem.

A gestão do MEC é a pior possível. Ainda assim, não podemos, mais uma vez, colocar a conta nos alunos mais pobres. Aulas já!

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