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Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

Demissão de Alvim joga luz no porão da Secretaria da Cultura

Não foram as práticas que o afastaram, mas a peça teatral funesta em que falou sobre elas

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O tempo passou, e acabei não cumprindo uma promessa que tinha feito para mim mesmo: escrever uma coluna sobre o ensaísta e estudioso da cultura Mark Fisher, conhecido também como k-punk.

A demissão do secretário da Cultura, Roberto Alvim, na semana passada, por emulação do discurso do nazista Joseph Goebbels em pronunciamento oficial, trouxe à tona vários temas que k-punk aborda na sua obra.

Fisher nasceu na Inglaterra em 1968 e graduou-se em filosofia e literatura. Participou muito cedo de grupos de estudo sobre o impacto da tecnologia sobre o campo cultural.

No entanto o território de atuação de Fisher era mesmo a internet. Por muitos anos escreveu ele o seminal blog k-punk, nome que adotou para si próprio.

Escreveu livros e ensaios importantes e, nos últimos anos de vida, foi professor do prestigioso Goldsmiths College, da Universidade de Londres, onde lecionou até a morte trágica, em 2017.

A coleção completa dos seus ensaios foi organizada e publicada em um livro de 500 páginas no fim de 2018. Na minha visão, é um dos documentos mais relevantes para entender os aspectos culturais do mundo em que vivemos hoje, em que a realidade está sob ataque e a subjetividade é progressivamente fragmentada (e posteriormente cooptada) por uma série de delírios que se espalham pela rede.

Secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim, em vídeo em que parafraseia Goebbels - Reprodução/Twitter

A consequência disso é no primeiro momento dissolver laços sociais, para então simulá-los com base em conceitos de carga emocional (como nação, pátria) que, justamente por serem indefinidos, permitem sua instrumentalização política.

O vídeo que levou à demissão de Alvim funciona justamente como um teatro que resume bem as correntes que formam a comunicação política no Brasil (e em boa parte do mundo) contemporâneo.

Provavelmente sem querer, o dramaturgo Roberto Alvim produziu naquele vídeo sua obra mais importante (e escabrosa). Ele revelou claramente, por meio de um pronunciamento oficial cuidadosamente elaborado, os contornos da política cultural que vinha sendo forjada nos bastidores da secretaria. A reação que o derrubou vem justamente da “revelação” de algo que, na verdade, já era sabido.

Mark Fisher escreveu sobre esse tema. Nas palavras dele:

"Frequentemente deixamos de prestar atenção na importância enorme que existe na diferença entre o que é sabido amplamente e o que é sabido oficialmente. Consequências terríveis surgem quando comportamentos obscenos que são amplamente conhecidos cruzam a linha para se tornarem sabidos oficialmente. Quando algo que é amplamente sabido é “revelado” por canais oficiais, só aí que uma reação institucional acontece." 

Em suma, manter políticas nefastas no dia a dia do poder pode? O que não pode é fazer um vídeo oficial relevando o que está sendo feito?

Isso reforça o argumento que escrevi em coluna de novembro de 2018 de que a comunicação política hoje está dividida em “casa” e “porão”.

O caso Alvim jogou luz no que se passava no porão da Secretaria da Cultura. Não foram as práticas em si que o afastaram. Foi a peça teatral funesta que ele produziu, filmou e divulgou na internet falando sobre elas.


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