Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Recados assassinos

O crime está infiltrado nas nossas próprias tripas

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

O assassinato da vereadora Marielle Franco tem todas as características de um recado. Foi friamente planejado, com o requinte de carros de tocaia, conhecedores dos deslocamentos da vítima e comunicando-se entre si com os faróis. E ainda mais friamente executado, por um atirador experiente e treinado, que nem precisava ver o alvo. Marielle, apesar de militante e combativa, não tinha por que ser esse alvo —segundo consta, nunca fora ameaçada. Donde, se é um recado, o que diz e para quem?

Missa em memória da juíza Patrícia Accioli, assassinada em 2011 - Paula Giolito/Folhapress

Vide o caso da juíza Patrícia Acioli, executada em 2011 com 21 tiros no rosto e no tórax, disparados por quatro homens de capacete em duas motos, ao chegar sozinha à sua casa em Piratininga, bairro de Niterói. Patrícia tinha 47 anos e era mãe de três adolescentes. Em dez anos como juíza, condenara 60 policiais acusados de corrupção e de pertencer a milícias ou a grupos de extermínio. Ao contrário de Marielle, Patrícia vivia sendo ameaçada e andava com escolta. Na noite do crime, por acaso —ou não— estava sem. Como os assassinos ficaram sabendo? 

Pela ferocidade, a execução de Patrícia teria mais características de vingança, de ajuste de contas, que a de Marielle. Mas era também um recado —uma mensagem para as forças da ordem, de que o crime está preparado para o combate que, mesmo tibiamente, tentam lhe impor. E de que tem mais recursos do que se supõe —sua munição, por exemplo, entra em seus revólveres pelos meios legais.

Nenhum dos últimos governos preocupou-se com a segurança no país. Sob Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff, o crime cresceu à vontade e a taxas superiores às da economia. Foi-lhe permitido infiltrar-se nos órgãos que deveriam combatê-lo e, com isso, fazer parte do Estado.

Será difícil extirpá-lo sem arrancar nossas próprias tripas.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas