Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Hoje, na composição musical, 1 + 1 = 30

No passado, bastavam um compositor e um letrista para criar uma obra-prima. Hoje, os autores são um coletivo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Noel Rosa compôs, sozinho, "Com Que Roupa?", "Não Tem Tradução", "Palpite Infeliz", "Três Apitos", "Último Desejo" e umas cem outras. Bastavam-lhe um pedaço de papel, um lápis e uma garrafa de cerveja Cascatinha. Mas não tinha nada contra parceiros. Com Vadico fez "Feitiço da Vila", "Conversa de Botequim", "Feitio de Oração". Com Heitor dos Prazeres, "Pierrô Apaixonado". Com João de Barro, "As Pastorinhas".

Ary Barroso, também só com seu piano, compôs "Camisa Amarela", "Faceira", "Na Baixa do Sapateiro", "Morena Boca de Ouro", "Os Quindins de Iaiá", "Risque" e "Aquarela do Brasil". Com o fabuloso Luiz Peixoto fez "Maria", "Na Batucada da Vida" e "É Luxo Só". Com Lamartine Babo, "No Rancho Fundo".

Dorival Caymmi, sozinho, fez "O Que é Que a Baiana Tem?", "Só Louco", "Nem Eu", "Marina", "Maracangalha". Com Antonio Almeida, "Doralice". E, com Carlinhos Guinle, "Sábado em Copacabana" e "Não Tem Solução" —não é verdade que Guinle entrasse com o uísque. Tom Jobim teve Vinicius de Moraes como parceiro em "A Felicidade", "Chega de Saudade", "Ela é Carioca", "Garota de Ipanema" e outras 62, mas, sozinho, fez "Corcovado", "Samba do Avião", "Wave", "Chovendo na Roseira" e "Águas de Março", só entre as maiores.

Houve casos de parcerias triplas. "Cantores do Rádio" é de Lamartine, João de Barro e Alberto Ribeiro. "Estamos Aí", bandeira da bossa nova, de Durval Ferreira, Bebeto Castilho e Regina Werneck. Mas eram raros. Normalmente, bastava um para fazer a música, outro a letra, e tínhamos uma obra-prima.

Ouço dizer que as obras-primas de hoje, nacionais e internacionais, exigem um "coletivo" de sete, oito ou mais. Ao compositor e ao letrista juntam-se o produtor, o "beatmaker" (o que será?), o cantor, o DJ, o caititu, o garoto que busca a pizza etc. Todos assinam. Um recente sucesso americano tinha 30 autores! É parceria ou formação de quadrilha?

Partituras de sambas e marchas clássicos de Lamartine Babo, Ary Barroso e João de Barro, sozinhos, e de Noel Rosa com Vadico - Heloisa Seixas

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas