Em "Intriga Internacional" (1959), filme de Hitchcock, Cary Grant está à caça de alguém que se passa por ele numa trama de espionagem. A folhas tantas, é atraído para um encontro com o homem. O lugar é uma estrada vazia, cercada por um milharal. O sujeito não aparece e Cary se vê sozinho naquele ermo, tendo ao longe apenas um teco-teco que fumiga a plantação. De repente, o avião desce sobre ele como se quisesse atingi-lo. Grant se joga no milharal, mas o avião, voando rente, despeja litros de produtos químicos para asfixiá-lo e obrigá-lo a se descobrir.

Nesta quarta (9), 301 deputados contra 150 aprovaram o texto-base de um projeto que aumenta o poder do Ministério do Agronegócio, digo da Agricultura, no controle de agrotóxicos e esvazia o da Anvisa e do Ibama. É o imbrochável Jair Bolsonaro tangido pelos agros, misturado à boiada, com uma canga no pescoço e fazendo mu.

O ministério, com seus especialistas em moda country, rodeio e sofrência, não quer que a análise dos pesticidas, lenta e minuciosa, por órgãos honestos e independentes, atrase o uso imediato deles. Mas promete ser razoável. Se tais produtos se revelarem cancerígenos, causadores de doenças renais, hepáticas e neurológicas e nocivos aos rios, solo, ar, chuva, domicílios, fauna e flora, o ministério diz que pode pensar no caso.

Como o risco de estar ingerindo veneno atinge a todos, os 301 deputados não poderão se queixar de uma possível incidência de cânceres de pulmão, cérebro, mama, próstata e testículo entre eles. Nem se, pelo fato de o agrotóxico afetar a taxa de fertilidade em homens e mulheres e alterar a qualidade dos espermatozóides, seus filhos nascerem com oito pâncreas ou duas cabeças. É o agrotóxico à solta na cesta básica.

Ah, sim, "Intriga Internacional". Sufocado pelo pesticida, Cary Grant corre para a estrada. O avião, perseguindo-o, se esbodega no solo e explode. Sorry pelo spoiler, agros.