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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Tempestade de ritmos

Uma coleção de discos do tempo em que o brasileiro era um dos ouvintes mais cosmopolitas do mundo

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Ficou raro um presente desses: uma pilha de discos de 78 rpm. São aqueles pesadões, de cera, quebráveis, com uma música de cada lado e som de fritex ao fundo. É um formato a que devemos muito: de Caruso a Callas, de Jolson a Ella e de Pixinguinha a Jobim, grande parte da melhor música do século 20 saiu primeiro neles. No Brasil, os 78s existiram de 1902 a 1964, atravessaram várias gerações de vitrolas e, nos anos 40 e 50, fizeram do brasileiro um dos ouvintes mais cosmopolitas do mundo.

Seus usuários tinham suas preferências, mas raramente se dedicavam a um único tipo de música. O comum era que, entre marido, mulher e um ou dois filhos, cada família tivesse em casa uma verdadeira enciclopédia sonora: clássicos, foxes, boleros, tangos, rumbas, mambos, fados, valsas, canções francesas, italianas e toda a riqueza brasileira —sambas, marchinhas, baiões, choros, frevos, toadas.

Muitos dos discos que acabo de ganhar provam isso: "Ouça", com Maysa, "Vida de Bailarina", com Angela Maria, "Respeita Januário", com Luiz Gonzaga, "Lisboa Antiga", com Cauby Peixoto; "Maracangalha", com Dorival Caymmi, "Una Mujer", com Gregorio Barrios, "La Cumparsita", com Xavier Cugat, "C'est Magnifique", com Lucienne Delyle, "Learnin' the Blues", com Frank Sinatra, "Blue Gardenia", com Nat King Cole, "Banana Boat", com Harry Belafonte, "Luna Marinara", com Luciano Tajoli. Discos de vários estilos, países e línguas. Hoje vive-se uma monocultura musical.

Quem me ofereceu essas maravilhas foi meu velho colega de reportagem do Correio da Manhã, Bertholdo de Castro, sem parentesco. Os discos pertenciam a seus pais, e Bertholdo, em garoto, teve a sorte de ser exposto a essa tempestade de ritmos. Regulamos em idade e sei bem o que lhe significou.

Assim como sei a razão de dois discos no lote: "Rock Around the Clock", com Bill Haley, e "Tutti-Frutti", com Elvis Presley. Eram os dele na coleção.

Discos em 78 rpm dos anos 40 e 50, citados no texto - Heloisa Seixas

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