Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Sabe aquela da Dorothy Parker?

Suas tiradas fulminantes abafaram seu valor como escritora

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Dorothy Parker estava com seu poodle Troy num saguão de hotel em Nova York, esperando um amigo. O homem demorou a descer e Troy, impaciente, fez xixi numa pilastra. O gerente ouviu o esguicho, viu a poça e marchou em direção a Troy. Dorothy, sentindo o perigo, sussurrou, como que envergonhada: "Fui eu...".

Essa era uma tirada típica de Dorothy Parker (1893-1967), o nome mais famoso da Mesa Redonda do Algonquin Hotel, uma turma de cerca de 20 intelectuais criativos e debochados que, espontaneamente, sem pedantismos teóricos, marcou a cena cultural americana dos anos 20. Pior para Dorothy —suas frases, desfechadas de primeira, abafaram para a posteridade a contista, poeta, roteirista de cinema e crítica de teatro e de literatura que ela foi. Mas quem a mandou ser tão rápida?

Perguntaram-lhe qual era o seu tipo de homem. Ela disse: "Burro, grosso e bonito". Mas depois se queixou de seu ex-marido Eddie Parker: "Era tão burro que conseguiu quebrar o braço fazendo ponta no lápis". Sobre um bonitão que a esnobou: "O corpo lhe subiu à cabeça". E sobre uma escritora pretensiosa cuja carreira se dava principalmente na horizontal: "Ela fala 18 línguas e não sabe dizer 'Não' em nenhuma". Dorothy foi também a autora do célebre epitáfio "Desculpe o meu pó".

Uma amiga lhe confidenciou: "Já decidi. Só quero envelhecer com dignidade". Dorothy perguntou: "E você conseguiu?". Dorothy foi presenteada com um papagaio e deu-lhe o nome de Onan —​"porque ele despeja suas sementes no chão". Sua crítica sobre a estreante atriz Katharine Hepburn: "Ela domina todo o leque de emoções, de A a B". E sobre um livro recém-lançado: "Este não é um livro a ser deixado casualmente de lado. É para ser atirado longe".

Dorothy era alcoólatra e tentou três vezes o suicídio. Sem sucesso. Até que se conformou num poema: "Armas são ilegais/ Nós afrouxam/ Gás fede/ É melhor viver".

Edições originais de livros de Dorothy Parker e pôster da Mesa Redonda do Algonquin com desenho de Al Hirschfeld - Heloisa Seixas

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas