Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Canções em fuga

'I left my heart in San Francisco' terá abandonado Tony Bennett? Gostaria de acreditar que nunca

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Por tristes circunstâncias, nos últimos tempos, acompanhei a tragédia de pessoas assoladas por demências senis, como a doença de Alzheimer. Era como se os pontos luminosos estivessem se extinguindo dentro da cabeça delas. E o que me mortificava era se, em algum momento, elas ficavam conscientes desse processo e percebiam que tal ou qual informação deixara de existir. Uma canção, por exemplo.

Pensei nisso a respeito de Tony Bennett quando se noticiou, em 2016, que ele fora diagnosticado com Alzheimer. Já tinha então 89 anos, mas continuaria a se apresentar, com a ajuda de partituras contendo as letras de que agora só lhe restavam lampejos. Tony morreu nesta sexta-feira (21), aos 96. Como terá sido para ele, nesses sete anos, conviver com a ideia de que estavam lhe fugindo a música e os versos de "The Boulevard of Broken Dreams", "Stranger in Paradise" e "Lost in the Stars", canções que o fizeram estourar no começo dos anos 1950? Ou, para sua família, descobrir que ele já nem sabia que elas haviam existido?

Quando terão se evaporado "Once Upon a Time", "Have I Told You Lately", "The Good Life" e "When Joanna Loved Me", apenas entre as canções de que ele se apossou para sempre? Ainda saberia que foi o primeiro a consagrar o compositor Cy Coleman, de quem gravou "It Amazes Me", "I Walk a Little Faster", "The Best is Yet to Come" e tantas que deram para encher um LP? E se lhe falassem de "Hi-Ho", a grande canção dos irmãos Gershwin perdida havia 30 anos e que ele lançou?

Ainda se lembraria de seus discos com Bill Evans, dos maiores da história? E de que, encantado de saída com Tom Jobim e com a bossa nova, gravou um álbum, "Songs for the Jet Set", que abria com "Song of the Jet", o nosso "Samba do Avião", e tinha na capa o Rio visto de cima?

E quando "I Left My Heart in San Francisco" o terá abandonado? Não sei. Mas gostaria de acreditar que nunca.

LP e CDs entre os mais representativos de Tony Bennett - Heloisa Seixas

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas