Tony Bennett paquerou a música brasileira e gravou canções feitas por Tom Jobim

Músico era fascinado pelo gênero da bossa nova e afirmou ter João Gilberto como um de seus artistas favoritos

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São Paulo

O cantor Tony Bennett, morto nesta sexta-feira, dia 21, fez sua voz ecoar com a de artistas brasileiros. Um dos maiores representantes do jazz, e artista irrefreável da música pop tradicional americana, Bennett deixa, como parte do seu legado, canções com Ana Carolina, Maria Gadú e homenagens à bossa nova de João Gilberto.

Admirador confesso da música latina, Bennett tinha apreço por Leny Andrade, carioca tida como um dos maiores nomes do jazz brasileiro. Ela levou parte da sua vida cantando em boates nos Estados Unidos e na Europa. Foi num desses shows que a cantora fisgou a atenção de Bennett.

O cantor americano Tony Bennett no Rio de Janeiro, em 1986 - Rogerio Carneiro/Folhapress

Andrade era também símbolo da bossa nova, ritmo apreciadíssimo por Bennett desde que ele se apresentou no Brasil pela primeira vez, em 1962. Naquele ano, ele conheceu João Gilberto e sua mulher, Astrud, e foi apresentado à música de Tom Jobim.

"Sempre amei a bossa nova, principalmente por causa de sua ligação com o jazz. Quando retornei aos Estados Unidos, não parava de falar para todo mundo como a bossa nova era maravilhosa. Muitos anos depois, convidei João Gilberto para ir até minha casa, em Nova York, e fizemos uma jam session que eu nunca vou esquecer", disse o cantor ao site da revista Rolling Stone Brasil em 2009, ano em que fez shows no país.

Naquele mesmo ano, o jazzista declarou amores a João Gilberto no programa de Jô Soares, da Globo, afirmando que o brasileiro era seu cantor favorito. "Ele canta tão suave e correto que podíamos até ouvir os grilos ali. É um grande artista, muito honesto."

O fascínio de Bennett pelo Brasil virou música. A faixa "Quiet Nights of Quiet Stars", lançada por ele em 1963, é uma versão da canção "Corcovado", escrita por Tom Jobim dois anos antes. Em 1965, Bennett voltou a flertar com a bossa nova — gravou uma versão de "Insensatez", de Tom Jobim e Vinícius de Moraes para o disco "If I Ruled the World: Songs for the Jet Set".

Bennett voltou ao Brasil em 2009, última vez em que fez um show por aqui. Na plateia estava Ana Carolina, com quem ele gravou um dueto três anos depois, em 2012. A dupla fez uma versão bilíngue de "The Very Thought of You".

A parceria faz parte do disco "Viva Duets", terceira parte de um projeto de duetos em que Bennett gravou com artistas como Amy Winehouse e Lady Gaga, com quem depois gravou dois discos inteiros.

Em "Viva Duets", o americano dividiu microfone apenas com cantores de música latina, que ele afirmou ser autêntica e cheia de alma.

"Um ‘gentleman’, ele me perguntou como eu estava, e eu disse que nervosa, logicamente", conta Ana Carolina em vídeo postado no Instagram nesta sexta-feira. "É sinal de que algo grande está para acontecer aqui [ele disse]. Eu vi a garota que saiu de Juiz de Fora e chegou a Nova York para cantar com essa lenda." Os dois músicos filmaram um clipe da cantoria que ultrapassa 5 milhões de visualizações no YouTube.

A voz da paulistana Maria Gadú pode ser ouvida no mesmo disco. "Blue Velvet", escrita em 1950 por Bernie Wayne e Lee Morris, ganhou versos em português nessa regravação.

"De veludo azul/ mais que o azul do seu olhar/ a tua boca a suspirar/ um querer", canta a brasileira nos versos da canção, ao que Bennett responde: "nosso amor eu segurei firme/ sentindo o êxtase aumentar".

"Grande voz dos tempos, da elegância", escreveu Gadú na legenda de uma foto em que aparece com ele. "Tive o privilégio de conhecer seu amoroso jeito de viver a vida. Hoje se encantou Tony Bennett."

O músico morreu em Nova York aos 96 anos. Ele descobriu que tinha a doença de Alzheimer em 2016.

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