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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

O Brasil ama Garrincha -hoje

Os mais jovens podem pensar que sempre foi assim. Mas, no fim da vida, ele era só o bebum, o viciado

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Garrincha faria 90 anos no próximo dia 28 de outubro. Ainda faltam dois meses, mas as movimentações já começaram. Nenhuma surpresa. Todo ano comemoram-se seus aniversários de nascimento, morte, estreia no Botafogo e conquistas pela seleção. O Brasil ama Garrincha, e os mais jovens podem pensar que sempre foi assim. Mas não foi.


Em seus últimos dez anos de vida, 1973-83, quando sua presença no noticiário era uma triste sucessão de constrangimentos públicos, Garrincha era visto como se costuma ver os alcoólatras: o fraco, o bebum, o viciado, o sem-vergonha. Muitos botavam a culpa em Elza Soares, com quem ele foi casado de 1963 a 1978 —ela o "levara a beber". Mas os íntimos sempre souberam da capacidade cúbica de Garrincha muito antes de ele conhecer Elza. Souberam e encobriram.

Ninguém "leva" ninguém a beber, mas pode aplainar-lhe o caminho. No caso de Garrincha, isso coube, entre outros, aos jornalistas que construíram a imagem do gênio ingênuo e folclórico; aos médicos dos clubes pelos quais passou, que nunca viram nele o processo de dependência alcoólica; e à ignorância brasileira sobre o problema —que, se ainda é enorme hoje, era colossal nos anos 60 e 70.

Foi o álcool, e jamais Elza, que destruiu Garrincha. Já perto do fim, quando Garrincha era recolhido caído na rua, amigos bem-intencionados começaram a interná-lo em clínicas. Mas eram internações para "desintoxicação" —dezenas delas, das quais ele era logo liberado ou fugia, apenas para ser recolhido de novo na rua e reinternado com o mesmo efeito. Garrincha nunca foi abandonado. Apenas ninguém sabia como salvá-lo. Morreu aos 49 anos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil tem hoje 6 milhões de alcoólatras. A estimativa é modesta. O número real é maior, porque essa é uma doença que os próprios doentes e principalmente suas famílias têm vergonha de chamar pelo nome.

Fotonovela e reportagens da revista Manchete Esportiva e brindes em homenagem a Garrincha por volta de 1958 - Heloisa Seixas

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