Há exatos 30 anos, a Bolsa de Valores do Rio me convidou para uma conversa com seu presidente. Algo a ver com uma biografia. Aceitei e, na sede da praça 15, fui levado a Carlos Alberto Reis. Seu assessor e xará, Carlos Alberto Azevedo, ao ouvir dele que gostaria de patrocinar uma biografia de Garrincha, tinha lhe sugerido o meu nome. Não sabiam que, havia um ano, eu já estava me dedicando por conta própria a um livro sobre o jogador. Do alto de seu cargo no mundo financeiro, Reis me desarmou em 30 segundos.
"Me chame de Carlinhos", ele disse. "Tenho algumas paixões na vida: clássicos do cinema americano e o Botafogo. Acabo de saber que você está escrevendo uma biografia de Garrincha. Podemos nos associar ao seu trabalho." Respondi: "Fico muito grato e topo, claro. Mas devo avisar que nem tudo foram dribles e glórias na vida dele. Houve um problema de alcoolismo, muito grave". "Não importa", disse Carlinhos. "Só quero que você escreva a verdade."
Foi uma bolsa de dois anos. Em novembro de 1995, "Estrela Solitária -Um Brasileiro Chamado Garrincha" saiu e foi lançado no prédio da Bolsa. Em meio a uma multidão de craques de todas as épocas, Carlinhos estourava de orgulho. O livro começou ali uma carreira que até hoje não terminou, e devo isso a ele.
Ficamos amigos e, por todo esse tempo, pude constatar a pessoa adorável que ele era: sempre à vontade, muito carioca, gentil, amoroso. Certo dia ligou-me para dizer que estava estudando inglês a sério: "Quando morrer, vou para o céu e quero estar preparado para bater um papo com o Capra, que está lá". O americano Frank Capra (1897-1991), diretor de "A Felicidade Não se Compra" (1946), era um de seus heróis. Achei tão bonita a história que a contei aqui ("Planos para o futuro").
Desde sábado último, já posso ver Frank Capra encantado com Carlinhos Reis, batendo papo com ele no céu.
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