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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Soberania de araque

Aqui vão sugestões para se desenhar um mapa do Brasil que não pertence mais ao Brasil

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Sim, são mais de oito milhões de quilômetros quadrados de território nacional. Mas de quantos a nação detém a soberania? Soberania é onde o Estado entra e sai à vontade, dita normas e se guia por elas, faz a sua parte e espera o mesmo dos cidadãos. Afinal, a nação diz respeito a todos, não a feudos particulares com regras próprias. Mas é isto em que se transformou o país —um amálgama de cercadinhos dominados por grupos anônimos a que têm de se submeter milhões de brasileiros.

Já é possível desenhar um mapa do Brasil demarcando os lugares em que a soberania tornou-se privilégio desses grupos. Dele constariam não apenas os bairros e comunidades das cidades nas mãos da milícia e do tráfico, mas também suas extensões na vida nacional. Os presídios, por exemplo —se medidos em metros lineares, quantos milhares de quilômetros de celas e pátios já não estão fora do controle de seus ditos administradores? E os tribunais, de que saem as ordens para abrir a porta da frente e soltar chefes que nunca mais serão vistos? E os quartéis, de onde escapam armas por atacado?

O país terá soberania sobre o Congresso Nacional? Não me refiro às tramoias que nos são impostas em proveito da prosperidade pessoal de seus membros, mas à própria segurança do bordel —ou o ministro da Justiça não teria hesitado em visitá-lo na semana passada temendo levar um tiro.

Quem é o soberano nas terras tomadas por grileiros, garimpeiros ilegais, desmatadores, contrabandistas e assassinos de indígenas e ativistas? E como o Estado deixou que surgissem milhares de cracolândias pelo país? A de São Paulo não era uma advertência óbvia?

Quando se fala em milícias, o Rio também é um alvo óbvio. É fácil desenhar o Cristo em meio a chamas e tiroteios —já foi feito umas mil vezes. Mas de que importa agora só apontar o dedo para onde tudo começou, e não para onde vai terminar?

Grupo de usuários na esquina da rua dos Gusmões com a av. Rio Branco, em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

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