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Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

Descrição de chapéu Ásia

O que a Coreia do Sul tem?

Taxa de investimento e escolarização explicam produtividade maior que a brasileira

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Segundo a base de dados do World Economic Outlook (Perspectivas da Economia Mundial) do FMI, a renda per capita da Coreia do Sul atingiu, em 2019, US$ 44,5 mil (R$ 211,4 mil), e a do Brasil, US$ 15,4 mil (R$ 73,1 mil). Os dados estão em dólares internacionais, controlados por diferenças sistemáticas de custo de vida entre os países. Ou seja, a Coreia do Sul tem uma produção por pessoa que é o triplo da brasileira.

Mas o produto per capita é diferente do produto por hora trabalhada. A quantidade de trabalhadores como proporção da população pode ser diferente, e a jornada de trabalho, isto é, o número de horas por ano que cada pessoa trabalha, também.

Segundo dados do Conference Board, a razão entre o produto por hora trabalhada é de 2,4, não de 3. Ou seja, a diferença de produtividade do trabalho é de 2,4. Uma hora trabalhada na Coreia do Sul resulta em 2,4 vezes mais produto do que uma hora trabalhada no Brasil.

Pessoas caminha em rua de Seoul, Coreia do Sul - Heo Ran - 3.abr.2020/Reuters

Sabemos que a taxa de poupança na Coreia do Sul é muito maior e, com ela, a taxa de investimento. Segundo os dados do World Economic Outlook, a taxa de investimento no país é 1,8 vez a taxa de investimento no Brasil. O modelo mais simples que temos sugere que essa razão entre as taxas de investimento explica uma produtividade do trabalho 34% maior, ou uma razão entre as produtividades do trabalho de 1,34. Muita coisa ainda falta.

Mas sabemos que a escolaridade é muito melhor na Coreia do Sul. E sabemos que a escolaridade eleva a produtividade do trabalho. Em geral, cada ano a mais de escolaridade eleva os salários em 10%. E hoje há muita evidência de que esse ganho se deve à maior produtividade advinda dos aumentos de eficiência do trabalhador mais escolarizado.

Segundo a base de dados de Barro e Lee, em 2015 a população com 25 anos ou mais na Coreia do Sul tinha 12,8 anos médios de escolaridade, e a do Brasil, 8,7. Mas o desempenho de nossos alunos nas provas do Pisa (exame internacional de proficiência da OCDE) é 80% do desempenho dos sul-coreanos. Ou seja, o Brasil tem 6,8 anos de escolaridade (com qualidade coreana), se houver linearidade entre o resultado do Pisa e a eficiência do trabalhador. O Brasil, portanto, tem seis anos a menos de escolaridade da população com 25 anos ou mais. Essa diferença de seis anos a mais, com retorno de 10%, explica a produtividade sul-coreana, como razão da brasileira, ser 1,8.

Assim, o capital físico explica diferença de produtividade de 34%, a diferença de escolaridade explica 80%, e, multiplicando 1,34 por 1,8, temos 2,5, pouco maior do que 2,4!

Ou seja, toda a diferença de produtividade do trabalho entre o Brasil e a Coreia do Sul pode ser explicada pelas maiores taxas de investimento por lá e pela melhor e maior escolarização da mão de obra.

A produtividade intrínseca da Coreia do Sul, isto é, aquela que não se deve ao maior grau de capitalização e à maior quantidade e melhor qualidade da escolarização da população, é igual à brasileira.

Esse é um fato bem estabelecido pela literatura. O crescimento dos tigres asiáticos tem muito de força bruta. Muito poupança, muita escola e muito trabalho. A produtividade intrínseca não é grande coisa.
Isso quer dizer que é fácil reproduzir a experiência asiática? Penso que não. O grande mérito deles foi acumular essa quantidade imensa de capital de forma eficiente. Em geral, quando se acumulam muito capital e muito capital humano, há perda de qualidade e de eficiência alocativa.

Os sul-coreanos estão longe de ter a eficiência intrínseca da economia americana, mas conseguem manter a mesma eficiência intrínseca do Brasil com muito mais capital e escolarização da mão de obra.

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