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Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

Lula deveria estar mais preocupado

Petista deveria pensar noite e dia em como reduzir o gasto público em até R$ 400 bi

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No sábado passado (5), escrevi que há no debate orçamentário para 2023 discussão de uma possível renúncia em cumprir o teto do gasto. Seria um waiver.

Na quarta-feira (9), Persio Arida lembrou que a palavra waiver não é adequada para caracterizar o que se discute. Waiver remete a uma elevação temporária do gasto. O que se debate é uma elevação permanente. Agradeço a Persio a correção.

Ora, se há o desejo de uma elevação permanente do gasto público, é necessário que se discuta simultaneamente elevação da carga tributária para financiar a alta permanente da despesa.

Ou seja, a discussão relevante não é quebrar o teto dos gastos. Certamente quebrar o teto dos gastos é o que de mais fácil há. Vale lembrar que o teto dos gastos foi instituído somente porque a sociedade, por meio do Congresso Nacional, deixou de aceitar novas rodadas de elevação da carga tributária desde, pelo menos, 2004.

Presidente eleito, Lula discursa para os membros da equipe de transição do governo, em Brasília - Adriano Machado - 10.nov.2022/Reuters

Vamos aos números. Segundo a IFI (Instituição Fiscal Independente), o superávit primário do governo central ajustado ao ciclo econômico foi, em 2021, de 0% do PIB.

Como as medidas eleitoreiras de Bolsonaro são temporárias —no fim de 2022, tanto o Auxílio Brasil de R$ 600 retorna ao seu valor de R$ 400 quanto as desonerações do PIS/Cofins terminam—, muito provavelmente o déficit fiscal da União ajustado ao ciclo e líquido da tentativa de estelionato de Bolsonaro repetirá em 2022 o mesmo 0% do PIB de 2021.

Para que a dívida pública se estabilize, é necessário superávit primário ajustado ao ciclo de uns 2% do PIB. Consequentemente, o buraco fiscal em 2022 deve ser da ordem de 2% do PIB.

Se há o desejo de elevar permanentemente o gasto público em 1% a 2% do PIB, o buraco fiscal elevar-se-á para 3% a 4% do PIB, algo entre R$ 300 bilhões e R$ 400 bilhões.

Ou seja, o tema não é a rigidez do teto dos gastos. O tema é como construir uma situação fiscal que impeça a volta da inflação.

Como fazer para elevar a carga tributária e/ou aprovar reformas que reduzam o gasto público em R$ 300 bilhões a R$ 400 bilhões?

É estranho que o presidente eleito e as lideranças políticas petistas em geral não pensem dia e noite nesse tema. Se comportam como se a legitimidade do gasto social fosse suficiente para que os recursos magicamente aparecessem.

É importante lembrar que o Congresso Nacional é sócio do Executivo quando este propõe elevar os gastos. Quando a crise fiscal chega, a tendência é o Congresso lavar as mãos e jogá-la no colo do Executivo.

O motivo é muito simples: o eleitor responsabiliza o Poder Executivo pela desorganização macroeconômica. Não há incentivo aos congressistas em arcar com os custos em suas bases eleitorais da aprovação de medidas de elevação de receita e de redução de gastos.

A sociedade rachada agrava essa disfuncionalidade de nossa política.

Assim, tenho tido muita dificuldade em entender o discurso de "gasto é vida" de Lula na semana passada. Ao sentar na cadeira do Palácio do Planalto, o presidente enxergará um buraco fiscal de R$ 200 bilhões. No entanto, Lula tem se esforçado para transformá-lo em um buraco de R$ 300 bilhões a R$ 400 bilhões!

Na segunda-feira (7), a academia perdeu Edward Prescott (81 anos), Prêmio Nobel de Economia. Entre 1980 e 2003, Prescott fez parte do revolucionário grupo de pesquisadores do Departamento de Economia da Universidade de Minnesota.

Há inúmeras contribuições de Prescott, mas a maior delas, no meu entender, foi metodológica: ele nos convenceu de que os modelos macroeconômicos não somente ajudam a nossa intuição a compreender os fenômenos mas devem ser quantificáveis.

Nesse sentido, Prescott foi uma espécie de Galileu da macroeconomia.

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