Apelidado de Doido, Lisca, novo técnico do Santos, não tem nada de doido. Também não é bobo. Observando aqui de longe, parece bem esperto, mas nem sempre tem razão.

No dia 29 de junho, há menos de um mês, Lisca assumiu o Sport, na Série B. "A vontade era muito grande, dos dois lados", disse quando chegou ao Recife. "Espero ficar um bom tempo, no mínimo até o final deste ano, e se Deus quiser poder permanecer e fazer um grande trabalho."

Deus não quis, mas os santos (parças de Deus) estavam de olho. E, três semanas depois, Lisca deu entrevista como novo técnico do clube da Vila Belmiro. "É um sonho de todo treinador, é um clube enorme, gigante, e eu estou muito motivado."

Lisca comandou o Sport em quatro jogos, com uma vitória e três empates. Saiu invicto. Tem sido chamado de antiético por 11 a cada 10 torcedores do time pernambucano. De fato, não é a coisa mais legal do mundo deixar um time após 20 dias, mas também não tem nada de errado. Fábio Carille foi demitido do Athletico-PR depois de 21 dias. Ou seja, pau que bate em técnico bate em time.

O problema foi como Lisca fez a troca. Primeiro, o jornalista PVC (meu vizinho de coluna) apurou com suas fontes no Santos que Lisca seria o novo técnico do clube. O post foi publicado em seu blog durante o primeiro tempo de Sport x Vila Nova. No intervalo, sabendo da informação, a torcida pernambucana passou a hostilizar o técnico.

E aí vem o grande erro de Lisca no episódio. Ao chegar à coletiva, o técnico, visivelmente irritado, negou veementemente que tinha qualquer negociação com o Santos em andamento e chegou a insinuar que PVC mentira —o que tornaria PVC um dos grandes videntes do ano.

Lisca também disse na entrevista que essa informação criou uma situação ruim com a arquibancada (uai, quem criou a situação ruim foi o próprio técnico). "A torcida se voltou contra mim no meio do jogo. Hoje eu fui demitido pela torcida do Sport." A historinha era uma tentativa de ser demitido pelo clube e se livrar da multa contratual. Não colou.

Em tempos de janela de transferência tem muito jornalista que realmente passa o mês "colocando" ou "vendendo" jogador nos grandes clubes. Boatos de transferências, contratações e demissões servem não só para ganhar cliques mas, às vezes, para valorizar contratos de determinados atletas/técnicos.

Porém PVC não é um desses jornalistas. Pode ser acusado de outras coisas, cantar mal (será?), dormir com um caderno de estatística debaixo do travesseiro (será?), mas não de divulgar notícia falsa. A única culpa de PVC no caso é a de ser bem informado.

Em vez de ficar doido com o jornalista, Lisca deveria tentar apurar (e provavelmente não conseguirá descobrir) quem vazou a informação no Santos.

Uma pesquisa recente feita pelo Instituto Ipec em parceria com o jornal O Globo comprovou o que todo o mundo sabe: Flamengo (21,8%) e Corinthians (15,5%) têm as maiores torcidas do Brasil. São seguidos por São Paulo (8,2%) e Palmeiras (7,4%).

Mais para baixo é que os dados ficam curiosos, com o Inter (2,2%) com o dobro do Fluminense (1,1%); ou o Fortaleza (1,3%) muito maior que o rival local Ceará (0,8%). Mas aí tem a informação de que a margem de erro é de 2 pontos para cima ou para baixo. Então, do Vasco (o quinto, com 4,2%) ao Santa Cruz (20º, com 0,6%), ninguém pode fazer piada no elevador com ninguém.