Embora a arbitragem brasileira tenha recebido diversas críticas em decorrência da implementação do VAR e a comunidade do futebol peça um aprimoramento da tecnologia, foi justamente nesse contexto que emergiram discussões importantes sobre a profissionalização e os direitos da arbitragem.
No Brasil, a arbitragem não é profissionalizada —ao contrário da Premier League, por exemplo, que tem uma equipe de arbitragem profissional que é referência em todo o mundo. Entre nós, porém, a preparação e a qualificação do árbitro podem ser prejudicadas pela falta de direitos. E o que isso tem a ver com ciência?
Bem, quando se fala de um modelo de política científica em nosso país, algumas questões importantes também precisam ser discutidas, como os direitos dos pesquisadores, a vontade política de traduzir conhecimento em ações públicas eficazes e a importância da divulgação científica em linguagem acessível.
Nossa produção de conhecimento científico é feita sobretudo por professores universitários e alunos de mestrado e doutorado –logo, é fundamental investir em bolsas e projetos de pesquisa, capacitação e infraestrutura para os laboratórios. Precisamos reconhecer e garantir os direitos desses profissionais dedicados à ciência, que estudam e trabalham dentro da universidade.
Será que essa vontade política de traduzir conhecimento em ações públicas eficazes existe ou é mera manifestação de ideias vazias em período eleitoral?
Em meados de 2016 ainda se discutia uma proposta de reforma do ensino médio em que a educação física ficaria fora do currículo, não sendo mais obrigatória –na contramão dos achados da ciência sobre os inegáveis benefícios da prática da atividade física, ainda mais em nosso país, onde muitas crianças e adolescentes praticam atividade física e se alimentam somente na escola. Se do ponto de vista da ciência já existia um consenso, por que em pleno 2016 ainda se discutia a obrigatoriedade da prática na escola?
A ciência precisa ser divulgada em cada canto do país, em linguagem simples e acessível –e isso é responsabilidade de todos nós. O conhecimento não pode se ater às universidades, a debates entre os pares. Temos o direito de saber o que é feito com o dinheiro dos impostos.
Seja para o esporte ou para a ciência, devemos construir um diálogo possível com toda a sociedade e em especial com quem produz as ações públicas, as leis e diretrizes do país. Não que um VAR da ciência vá resolver todos os problemas, mas é tempo de tentar fazer de outro modo, reconstruir o debate público brasileiro, elaborar um modelo proativo de política científica para a educação e a reconstrução do país.
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Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas cedem seus espaços para refletir sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. Quem escreve é Barbara de Paula Pires Franco Guimarães, professora universitária, coordenadora dos projetos Rap e Ciência (Fiocruz/RJ) e Atividade Física para Todos (Complexo dos Macacos - Vila Isabel/RJ).
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