Escritor e jornalista, autor de “A Vida Futura” e “Viva a Língua Brasileira”.
Foco da seleção se perdeu, como se projecionista estivesse sonolento
Nesses momentos os jogadores brasileiros viravam manchas confusas na tela
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O Brasil poucas vezes esteve em foco contra a Suíça. Não foi capaz de produzir mais que meia dúzia de lampejos, triangulações, coriscos, ultrapassagens, pequenas explosões daquele futebol fluente, veloz e contundente que vinha sendo ensaiado desde que Tite assumiu o time. Raros desses momentos duraram mais de dez segundos.
O foco logo se perdia, o projecionista talvez estivesse sonolento ou quem sabe ausente, tendo posto em seu lugar o sobrinho aprendiz. Seguiam-se aos relâmpagos de lucidez uns trechos embaçados de 5, 10, 15 minutos, sim, cada vez mais longos. Nesses momentos os jogadores brasileiros viravam manchas confusas na tela e se entreolhavam aturdidos, como se não soubessem em que filme estavam.
Num dos trechos nítidos, Coutinho teve tempo de meter seu golaço, igual a tantos golaços de Coutinho, e avisar aos milhões de brasileiros que só na Copa veem futebol aquilo que o mundo da bola já sabe faz tempo --que o carinha com cabelo de Farrah Fawcett não é nosso único candidato potencial a melhor jogador do mundo. Foi uma beleza. E foi muito pouco.
A esperança de que o gol desse foco ao time logo se frustrou: o embaço, que estranho, ganhou força. E mais ainda após o empate suíço, no início do segundo tempo, quando os relâmpagos foram se tornando cada vez mais espaçados e fraquinhos, com a potência de lâmpadas de 20 watts.
Não estou no time dos que consideram desastrosa nossa estreia na Copa. O nervosismo natural, a força do adversário, o equilíbrio cada vez maior entre as seleções, a arbitragem duvidosa, a derrota da Alemanha diante do México --não faltam atenuantes para o travo que amargou a tarde de domingo.
Ninguém que tenha noção de como funcionam as Copas pode achar que a vaquinha auriverde já foi pro brejo. Há até quem dê boas-vindas ao tropeço, antídoto contra a soberba. Entendo esses argumentos. O problema é a falta de foco. Se empatar com a Suíça pode ser considerado "normal", aquela tela cheia de borrões definitivamente não o é. Dá para ser campeão jogando fora de foco, na base do lampejo eventual? Em tese até dá, mas nesse caso não adiantaria nada.
Sou daqueles malucos para quem, depois do 7 a 1, só um filmaço impecável de fotografia cristalina pode nos redimir. Ah, sim: um protagonista de penteado menos pateta ajudaria também.
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