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Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

Descrição de chapéu Todas Mente tecnologia

A ‘inteligência’ artificial vai matar as mídias sociais, viva a IA!

Predições de uma neurocientista que acha que a IA é burra

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Acho que algo de maravilhoso está acontecendo com o mundo: a suposta inteligência artificial está se tornando tão acessível e disseminada que já está começando a encher o saco e mudar nossos hábitos mais uma vez.

A parte divertida do momento é que eu suspeito que a primeira vítima seja justamente aquela onde tudo se propaga feito fogo em palha: as mídias sociais.

Digo suposta porque o que se chama de IA por aí são apenas algoritmos, tecnologia que acelera operações e portanto massifica o número de processos que cabem em um dia de nossa existência.

Inteligência mesmo é aquilo que nos torna mais (não menos!) flexíveis, que expande nossos horizontes e aumenta nossas possibilidades de estados futuros que são valiosos para cada um de nós. Inteligência é mais que adaptação: é proatividade a favor do que é importante. Pela minha definição, massificação é o contrário de inteligência.

Massificação, ao contrário, é exatamente o que geradores de conteúdo que estão apenas atrás de dinheiro querem e, como há muito dinheiro a ser feito nas mídias sociais, elas rapidamente se tornaram campo de experimentação para conteúdos feitos por IA.

Primeiro vieram os cães e gatos ad nauseum: veja um único vídeo e a partir de então tudo o que lhe é mostrado são mais cães e gatos. Viu um vídeo de receita? Tome mais 200. No meu caso, foram as bibliotecas integradas em arquitetura orgânica, sempre à beira d’água ou de portas abertas para montanhas e vales chuvosos.

O gato Gacek dorme em cima de um carro na cidade polonesa de Szczecin - Instagram/kotgacekeveryday

E então algo fabuloso aconteceu. Li em alguma mídia tradicional, daquelas escritas com curadoria, checagem de dados e edição, que minhas bibliotecas lindas no Instagram eram fantasia pura, produto de algoritmos que aprenderam a criar imagens de acordo com o gosto do freguês... e meu cérebro chaveou.

Foi como se um disjuntor tivesse caído e interrompido o acesso daquelas imagens ao meu sistema de recompensa. O cérebro não gosta de se sentir enganado, sobretudo no que diz respeito a interações supostamente sociais, nas quais alguém que se importa com a gente compartilha algo novo conosco.

A experiência me lembrou o Jogo do Ultimato, que, 20 anos atrás, virou moda na neurociência. O jogo mostrava que o cérebro avalia a mesma oferta de ganho financeiro exibida numa tela de computador de maneiras completamente diferentes, dependendo de quem o dono do cérebro acredita estar do outro lado fazendo a oferta: uma pessoa ou apenas um computador.

Vejo as mídias sociais começarem a sofrer com seu próprio veneno e parece que as mídias usadas para espalhar conteúdo de campanhas políticas já estão indo pelo mesmo caminho. A graça do gato, da receita ou da ilha paradisíaca é eles serem minoria e surpresa que acreditamos vir de um outro humano, não a norma produzida por computadores.

Os cientistas que usavam o falecido Twitter para compartilhar descobertas estão desaparecendo da tela. Minha filha, quem diria, saiu do TikTok. Acho divertido pensar que estamos voltando às origens, buscando conteúdo diretamente nas fontes originais da internet: os blogs e jornais. A inteligência artificial está matando as mídias sociais, viva a inteligência artificial!

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