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Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

Volta às aulas além da polarização

Precisaremos de um planejamento complexo, mas não podemos deixar que milhões de estudantes percam de vez o vínculo com a escola

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A pandemia esclareceu qualquer dúvida que ainda pudesse existir sobre a educação ser ou não prioridade no nosso país. Em reposta a um requerimento de informação feito por deputados da Comissão Externa de Acompanhamento do MEC, o ministério afirmou desconhecer quantos alunos tiveram acesso à educação remota nos últimos cinco meses.

O MEC se ausentou completamente da sua responsabilidade de coordenar e apoiar os esforços das redes educacionais. Consequentemente, apesar das iniciativas de gestores e professores Brasil afora, uma parcela considerável dos estudantes foi deixada à própria sorte.

Segundo a pesquisa “Juventudes e a pandemia do coronavírus”, feita pela Unesco, Conjuve e outras instituições, de cada 10 jovens, 2 não estão realizando nenhuma atividade escolar em casa.

Essa pesquisa também apontou que 28% dos alunos entre 15 e 29 anos já cogitaram não retomar os estudos, e, segundo o Datafolha, 38% dos responsáveis temem que seus filhos abandonem a escola.

Não podemos simplesmente cruzar os braços diante das graves consequências de se manter crianças e adolescentes fora da escola indeterminadamente. A não garantia do direito à educação básica, direito que deveria ser inegociável, traz graves impactos para toda a sociedade.

Segundo um estudo de Ricardo Paes de Barros, enquanto o Brasil investe R$ 90 mil para formar um aluno na educação básica, o prejuízo para o país e o indivíduo que abandona a escola chega a R$ 372 mil.

Em um país em que a educação não é prioridade e até medicamentos viram motivo de disputas acaloradas, o debate sobre a volta às aulas se tornou refém de mais uma discussão rasa e contraproducente.

Para quem de fato valoriza a educação, o cancelamento do ano letivo ou uma retomada que coloque em risco a saúde de nossos estudantes, professores e funcionários escolares são opções que sequer deveriam ser consideradas.

O que nós precisamos é de um planejamento que reduza ao máximo os riscos de contaminação e nos permita retomar as aulas com segurança, antes que milhões de estudantes percam de vez o vínculo com a escola e a esperança em um futuro melhor.

Não somos o primeiro país a nos debruçarmos sobre o tema da retomada às aulas e podemos aprender com as medidas bem-sucedidas que foram adotadas por diferentes países, como a desinfecção sistemática de salas de aulas, distanciamento de 1,5 m entre as carteiras, higienização frequente de mãos, uso de máscaras, suspensão de atividades coletivas e monitoramento de novas contaminações.

Nem todos os estudantes e colaboradores poderão retornar e, também por isso, precisaremos estabelecer um modelo de ensino híbrido com ensino presencial e a distância e revezamento de turmas.

Para além de analisar a defasagem de aprendizagem e condição psicológica dos estudantes e funcionários escolares, precisaremos também buscar ativamente todos os alunos que apresentarem sinais de evasão.

Por todas essas razões, se faz urgente a aprovação do PL 3477/20, que dispõe sobre a garantia de acesso à internet, com fins educacionais, a alunos e professores da educação básica pública, e do PL 2949/2020, que estabelece uma estratégia nacional para o retorno às aulas, ambos de minha coautoria.

Diante de um governo que despreza, pois desconhece, o valor da educação, com toda a certeza é mais fácil cruzar os braços e dizer que nada pode ser feito. Fácil e desastroso.


São em momentos como esse que temos a possibilidade de mostrarmos se o nosso compromisso com a educação persiste para além dos discursos e do que é cômodo. Disso depende o futuro de milhões de jovens e do nosso país.

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