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Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

Guia de sobrevivência para um 2022 polarizado

É urgente que a gente reaprenda a criar pontes

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"Não vou votar em você, eu não voto em feminista", ouvi de uma pessoa que amo muito nas eleições de 2018. Hoje eu sei que essa frase dizia pouco sobre o seu posicionamento em relação à igualdade entre homens e mulheres, mas muito sobre a incapacidade dos setores progressistas de falarem sobre o feminismo fora da sua bolha.

Em um ambiente polarizado, o feminismo foi associado a uma caricatura, pela qual essa pessoa era incapaz de sentir qualquer apreço. Fazemos o mesmo quando chamamos de fascistas todos os apoiadores do presidente, empurrando as pessoas cada vez mais para o bolsonarismo.

O que ocorrerá se os brasileiros forem para as urnas em 2022 com pedras nas mãos? Além das relações familiares esgarçadas, do debate público interditado e da violência política, ficaremos impossibilitados de reconstruir o nosso país. Bolsonaro pode perder a eleição, mas parte da população e, por consequência, do Congresso se fechará a qualquer posição que difira do radicalismo que ele prega. Por isso, é urgente que a gente reaprenda a criar pontes.

Compartilho aqui reflexões sobre como cada um pode contribuir para isso:

1. Evite simplificações e maniqueísmos. Quando tiramos uma informação de contexto ou nos comunicamos apenas por memes, contribuímos para a criação de um ambiente de ódio e fake news, em que não há lugar para a empatia.

2. Foque no argumento, não no interlocutor. Além de demonstrar respeito pela pessoa, você pode acabar descobrindo elementos de convergência sobre os quais é possível avançar.

3. Escute o seu tio bolsonarista. Faça perguntas. Não se preocupe, ouvir quem pensa diferente de você não te levará a votar no Bolsonaro. Mas talvez te ajude a entender por que tantas pessoas o fazem. O "vencedor" de uma discussão não é quem convence, e sim quem aprende.

4. Alguns laços são importantes demais para serem quebrados. Eu cresci em uma comunidade conservadora, e muitos dos meus preconceitos, dos quais eu não tinha consciência antes, só foram derrubados na faculdade. Foi quando me entendi feminista, por exemplo. Muitos dos amigos e familiares com quem cresci não passaram por esse mesmo processo. No início, isso fez com que várias conversas terminassem em discussões em que eu apontava os seus preconceitos e eles me chamavam de radical. Mas o tempo me ensinou a me posicionar sem afastá-los.

Não precisamos abdicar dos nossos valores para contribuirmos para um ambiente menos polarizado. Estar aberto ao diálogo não é ser neutro ou se abster. Pelo contrário, é se engajar no que, para mim, é a definição de política: escuta e construção de caminhos. Um feliz (e democrático) 2022!

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