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Eu financio atos terroristas?

Acho que sim, e por isso estou em crise

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Eu pago o aluguel, a comida, o plano de saúde e a Tadalafila 20mg de um idoso que não esteve em Brasília para o ato terrorista do último domingo, mas incentivou seus seguidores (uns três ou quatro?) a invadirem a sede dos três Poderes.

Se eu pago todas as contas desse velhinho safado e ele fica o dia inteiro na internet chamando golpismo de acampamento, postando memes misóginos e vídeos com teorias conspiratórios malucas, isso me transforma em uma financiadora de atos antidemocráticos? Acho que sim e estou em crise. Contudo, no meu lugar você deixaria esse parente tão próximo e querido, esse vovô que ama cachorrinhos e plantas, passar fome?

Fico aqui pensando que o bolsonarismo é como uma doença autoimune: um tanto inexplicável. Em alguns casos fermentada por traumas e raivas e, certamente, uma pane de sistema tão grave que a devastação se volta contra a pessoa. Não é maravilhoso ver idiotas documentando o próprio crime e postando suas almas miseráveis em redes sociais? Sendo facilitadores tão vaidosos e didáticos de suas próprias prisões?

Leonardo Índio Bolsonaro, sobrinho de Jair Bolsonaro, faz selfie durante invasão da Esplanada dos Ministérios - Leonardo Bolsonaro no Instagram/Via Reuters

Apesar de não ter pena de nenhum dos anciões presos no ato golpista (meu parente amado não estava lá, então cada um que se vire com seus velhinhos), concordo com quem está chamando a turminha de idosos de massa de manobra e pedindo a prisão somente dos reais responsáveis: financiadores, mandantes, empresários e estrategistas criminosos.

Acontece que na horripilante lista de detratores da República democrática, uma pessoa em especial me chamou a atenção. Fútil que sou, não foi apenas por se tratar de um ser que aparentemente expôs um menor de idade a um ato contra as instituições e o patrimônio público. Foi a sobrancelha de uma jovem, ex-miss e ex-primeira-dama da Paraíba, que me deixou obliterada.

Além de atentar contra a democracia, a mulher ostenta em sua face uma sobrancelha que afronta o gênero humano e é, em sentidos lato e stricto, um ato de vandalismo.

Se me falta capacidade espiritual para entender o que leva uma pessoa a ser fascista, não me sobra cognição suficiente para decifrar o que leva uma criatura do mundo dos vivos a talhar em sua fronte as ranhuras do inferno. Para que exatamente serve ter um carimbo de uma versão dilatadíssima do símbolo da Nike ocupando toda a testa, ultrapassando em 100% os limites do que seria um supercílio normal?

Perda de tempo achar que uma pessoa capaz de fazer isso com a própria cara, que ela com certeza acha uma obra de arte, não seria capaz de andar com gente que destrói Di Cavalcanti, Frans Krajcberg, Alfredo Ceschiatti e até um Jesus Cristo.

Técnicos trabalham na restauração da tela de Di Cavalcanti vandalizada por golpistas no Palácio do Planalto - Carl de Souza - 10.jan.2021/AFP

No entanto, eu queria mesmo era estar (ou ser) feliz como o Alckmin.

Passei todo o mês de dezembro tentando encontrar dentro de mim a alegria desse homem branco de direita que, longos 70 anos após a data de sua chegada à Terra, pôde sentir, enfim, o gostinho de estar do lado certo e ser festejado pelas pessoas certas.

Ah, colunista, você vai vir com esse papinho ridículo e maniqueísta de certo e errado? Vou. Existe velho que está certo e velho filho da puta (não me refiro ao meu amado parente, que só está errado mesmo).

Existe sobrancelha que está certa e sobrancelha desgraçadamente bizarra. E existe ser o cara da polícia repressora, aquele que acaba com merenda escolar, e ser o vice do Lula que sorri para os gritos de "sem anistia". Procure na internet fotos do Alckmin criança, adolescente, casando, se tornando pai, governador, rei da dinastia tucana, curtindo o Carnaval e vendo um jogo do Santos.

Nunca, nunquinha, ele foi tão feliz.

Desejo essa felicidade aos golpistas.

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