Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu ataque à democracia

É preciso punir os financiadores dos atos golpistas, diz empresário do agro

Marcello Britonão descarta a presença do agronegócio em movimentos golpistas, mas há vozes contrárias no setor

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É preciso apurar com rigor os financiadores dos atos ocorridos no domingo (8) em Brasília. O financiamento é enorme, e há muito dinheiro por trás desse movimento.

A avaliação é de Marcello Brito, empresário do agronegócio e ex-presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio).

A busca de desestabilização do país foi gravíssima e, desta vez, não se pode, como sempre ocorre, passar a mão na cabeça dos infratores e nada ser feito.

Dezenas de ônibus com bolsonaristas presos no acampamento foram levados à superintendência da Polícia Federal, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Ele acredita, no entanto, que as primeiras reações têm sido satisfatórias. Os culpados, porém, precisam ser responsabilizados. As punições mostram a força da democracia, afirma.

Em movimentos anteriores, como greves de sindicatos e de caminhoneiros, mesmo quando consideradas ilegais, foram aplicadas multas e punições, mas todas foram perdoadas, diz o empresário.

"A leniência das autoridades nestes últimos anos, incluindo os Três Poderes, foi o que proporcionou o que houve no domingo."

As primeiras reações mostram que a turma está descendo do pedestal e vendo que algo está acontecendo, afirma Brito. "Vamos ver os resultados daqui para a frente."

"Há um histórico de leniência neste país de pessoas que traduzem a lei a seu bem entender. Espero que essa linha tenha sido cruzada no domingo e que possamos nascer com um modelo de democracia mais eficaz."

Brito acredita que tenha faltado aos Três Poderes um pouco mais de sagacidade. Achavam que era apenas um grupelho, mas o número de pessoas e o grau de destruição deste domingo não foi por acaso.

Especialistas que acompanham os movimentos de extrema direita já vinham avisando que algo de grande estava sendo construído no Brasil.

Esse movimento não nasceu agora. Começou há duas décadas, foi crescendo e se consolidou no governo passado, com apoio de Jair Bolsonaro, de sua família e dos seus ministros.

O Brasil segue o roteiro de vários países onde há claramente terreno demarcado com esquerda, com direita e com centro. O problema brasileiro é que o centro está quebrado, rachado e desmobilizado. Precisa ser reconstruído, segundo o empresário.

Brito não descarta a presença do agronegócio nesses movimentos. Dentro do setor, como em todos os outros da economia, há apoiadores da esquerda e da direita, mas o estágio de evolução do agro neste momento, o coloca com maior evidência. Se a indústria não tivesse murchada, seria ela, afirma.

Há pessoas dentro do agronegócio que apoiam fortemente e publicamente esse movimento. Outros são radicalmente contra e têm se manifestado abertamente. Também há os que vêm tentando administrar o país mais brandamente.

A estridência do movimento durante o governo Bolsonaro, porém, nunca tinha sido vista no país com tal teor. Brito diz que não se pode, porém, jogar a culpa no agronegócio, como muitos vêm fazendo.

O agro participa dessas manifestações, mas é uma minoria, que não representa o setor de 5 milhões de produtores.

Entidades, até as que apoiaram o governo Bolsonaro, se manifestaram contra os ataques em Brasília. A Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso) afirmou, em nota, que repudia as invasões e os atos de vandalismo.

"Como entidade que preza pelo cumprimento das leis e da Constituição, defendemos a liberdade de pensamento e a manifestação pacífica, mas jamais poderemos concordar com invasão e depredação de qualquer propriedade, seja ela pública ou privada."

A associação destacou ainda na nota que "o agro não é composto somente por grandes empresas, mas sim e, principalmente, por pessoas que vão desde pequeno sitiante, agricultura familiar, pequenos, médios e grandes produtores, que dedicam suas vidas, economias, e suas famílias para produzirem alimentos com respeito".

Para a Aprosoja-MT, as declarações que atribuem ao setor participação nos ataques são descabidas e não retratam a importância do agronegócio para o país. "Somos contra grilagens, invasão da propriedade privada, desmatamento ilegal e uso irrestrito de pesticidas em lavouras."

A entidade diz ainda na nota que preza pela democracia e é contra qualquer ato que gere prejuízos ao Brasil. Afirma, ainda, que se opõe às conclusões que não representem a verdade.

A ABPA, do setor de avicultura e suinocultura, afirmou que repudia veementemente os ataques e os atos de vandalismo de domingo. A entidade destaca a convicção da agroindústria na preservação da democracia e que não há outra maneira admissível de manifestação além da realizada pacificamente.

Para a ABPA, "atos violentos são criminosos e devem ser punidos com todo o rigor da Lei".Procuradas, a Aprosoja Brasil e a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) não haviam se manifestado até a conclusão deste texto.

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