Não era Carnaval. As pessoas não apareciam de véu de noiva na academia nem iam almoçar com tiara de gatinho. Faltavam ainda duas semanas.

Mas a imundície que se pode ver pelas praças e ruas do país nesta Quarta-Feira de Cinzas também se via por lá.

Na quarta-feira, 13 de fevereiro, o plenário da Câmara dos Deputados passara horas apinhado. Deputados, assessores, jornalistas, gente entrando e saindo, conversando ao telefone, ao pé do ouvido ou falando sozinha.

À noite, quando os últimos soldados deixavam o recinto, os restos da civilização apareceram.

Embalagens de chocolates devorados, de balas que já tinham aliviado a garganta dos oradores, garrafas de água que haviam matado a sede, e que sede, de toda a tropa. Palitos de dente usados, papéis picotados, calhamaços de estudos legislativos largados para trás.

O lixo do Congresso Nacional, uma alegoria.

Quase toda sessão acaba assim, conta o servente Antônio Luiz da Fonseca, de 52 anos, 29 limpando o plenário da Câmara. “Cada ano que passa, piora.”

Mesmo sendo lavado de seis em seis meses, o carpete está todo manchado de restos de bebidas. O mais chato, lamenta Fonseca, são os chicletes mascados. Impregnam o chão. Na semana passada, o faxineiro encontrou um grudado debaixo de uma das mesas de votação.

No cafezinho, a mesma coisa. Garçonetes cochicham, com medo de serem ouvidas. A falta de educação as espanta. Guardanapos no chão, descuido com o espaço público.

É como diz Fonseca. Há lixeiras distribuídas pela Casa, só não descarta seus restos quem sabe que alguém o fará. Ele não fica chateado, mas está cansado.

Acomodadas em seus privilégios, as excelências terão nos próximos meses a essencial tarefa de votar a reforma da Previdência. Exige-se o fim da era das regalias e distorções com dinheiro público.

É hora de cada um limpar a própria sujeira.