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Advogado, é professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve sobre direitos e discriminação.

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A bala perdida do pastor

A junção bala-bíblia-bonachão é o que define a receita distópica para 2022

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Não há metáfora mais verossímil para o que está em jogo nas eleições de 2022 do que a da arma disparada, por pura imperícia e desrespeito às regras federais, pelo ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, pastor na religião bolsonarista, no aeroporto de Brasília na última segunda-feira (25). A junção bala-bíblia-bonachão é o que define a receita distópica para 2022.

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro lado a lado em cerimônia no Palácio do Planalto - Evaristo Sá - 4.fev.22/France Presse

Está tudo ali na cena do aeroporto: a bala, escondida pelo ex-ministro em sua pasta de documentos como quem esconde a pornografia fálica da nossa falência moral; a Bíblia, que na versão de Milton aprova a violência e mistura religião com o balcão de negócios de que é acusado instituir no MEC; o bonachão, que, por negligência, incompetência ou uma combinação de ambos, poderia ter lesionado o atendente da companhia aérea.

Engana-se quem pensa que se trata de um episódio isolado. A religião bonachona da bala se traduz, com Bolsonaro, em política pública. É o uso da Lei Rouanet, aprovado em abril deste ano, para que um livro sobre armas capte R$ 336 mil da indústria armamentista. É a política pró-violência bem-sucedida de Bolsonaro que conjuga, desde em 2019, duas frentes: de um lado, coloca mais armas na mão da população (dobrou a venda de munições em 2021 para os ditos caçadores, colecionadores e caçadores) e, de outro, flexibiliza o controle sobre armas e munições.

Mario Frias (dir.) fez aula de tiro no Bope com Eduardo Bolsonaro (centro), que disse que 'arma também é cultura'; à esquerda, André Porcincula, ex-chefe da Lei Rouanet - Reprodução/Twitter

A arma do bandido que te mata na esquina mesmo depois de você se ajoelhar pedindo para não ser morto, como ocorreu no Jabaquara na última segunda-feira (25), é mesma a arma do policial que executa o morador pai de um bebê de quatro meses mesmo sem ele apresentar qualquer risco, como ocorreu em Jacarezinho no Rio de Janeiro no mesmo dia. Mais armas em circulação e menos controle sobre o uso das armas, por civis e por policiais, geram mais violência e insegurança.

A bala perdida do pastor não saiu pela culatra: na religião armamentista, a bala perdida tem destino certo e este destino somos nós.

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