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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

Vai aumentar o número de viciados em jogo

Os compulsivos gastam o que não podem e se endividam; enquanto isso, a bola rola

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Concordo com as análises de que o nível técnico do Brasileirão do ano passado foi superior ao dos anos anteriores. Porém ainda é pouco.

O 7 a 1 faz dez anos em 2024. Não é para esquecer. O resultado não foi por acaso. Além do placar, as estratégias usadas pelas duas seleções foram marcantes. Enquanto a Alemanha tinha vários meio-campistas excepcionais, próximos um do outro, que não erravam passes, e tinha o domínio da bola e do jogo, o Brasil possuía vários atacantes hábeis, velozes, mas que deixavam um enorme vazio no meio-campo. A Alemanha deu um baile.

O 7 a 1 ajuda a explicar a história do futebol brasileiro. Após a derrota da seleção na Copa de 1982, quando o Brasil jogou muito bem e perdeu, os treinadores brasileiros dividiram o meio-campo entre os volantes que marcavam e os meias que atacavam. A transição da bola passou a ser feita com chutões da defesa para o ataque ou pelo avanço dos laterais. Por outro lado, desapareceram os meio-campistas, que gostavam de ficar com a bola e que a tratavam com carinho.

A derrota por 7 a 1 deixou marcas no futebol brasileiro - Adrian Dennis - 8.jul.14/AFP

Após o 7 a 1, pensei que haveria uma grande transformação no futebol brasileiro. As mudanças têm sido lentas e pontuais. A maneira de jogar do Fluminense, de aproximação e de muitas trocas de passes desde o goleiro para tentar envolver o adversário e chegar ao gol, é uma evolução no Brasil, porém uma repetição do que já se faz há muito tempo na Europa. Fernando Diniz, para completar sua inventividade, precisa fazer com que o Fluminense recupere mais rapidamente a bola e se posicione de maneira melhor na defesa para receber o contra-ataque, deficiências nítidas na goleada sofrida contra o Manchester City.

O Brasil tem formado bons meio-campistas, e vários estão bem na Europa. Porém ainda falta um grande craque nesta posição, que joga de uma intermediária à outra com intensidade, que marca e organiza o jogo com muita técnica e criatividade.

Não há mais lugar no futebol e na vida para os negacionistas, que desprezam a ciência. Os treinadores brasileiros sabem disso, mas há ainda muito para mudar. Não faz mais sentido analisar uma equipe pelo desenho tático na prancheta nem separar os times que preferem a passagem rápida da bola da defesa para o ataque dos que gostam de ficar mais com ela. Uma grande equipe muda a maneira de jogar naturalmente durante o jogo, de acordo com o momento.

O 7 a 1 faz dez anos, e o calendário do futebol brasileiro continua péssimo, com longos estaduais. Os gramados, na média, são ruins, e até os de grama sintética têm sido bastante criticados. Os árbitros pioraram, pois ficaram dependentes do VAR. As partidas estão tumultuadas e com excessos de faltas, como sempre. A bola para demais.

Os clubes, as federações e os governos, em vez de estar preocupados em melhorar a qualidade do espetáculo, descobriram como ganhar muito dinheiro com o mercado das apostas esportivas online. É o cassino eletrônico. Basta um clique no celular. O governo vai arrecadar muito dinheiro em impostos, e as empresas de apostas passaram a ser os principais patrocinadores dos clubes e das competições.

Segundo a Folha, os gastos dos brasileiros com jogos online atingiram cerca de R$ 54 bilhões entre janeiro e novembro do ano passado. Pela pesquisa Datafolha, 30% dos brasileiros de 16 a 24 anos afirmam que já fizeram alguma aposta.

Extremamente preocupante é que certamente vai aumentar o número de viciados em jogos, pessoas compulsivas que, para jogar, gastam o que não podem, endividam-se. Enquanto isso, a bola rola.

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