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Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

Caminhos de Peabiru

Rede de trajetos teve fundamental importância na história de Abya Yala

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Antes de Colombo e do subsequente tsunami de navegadores europeus que se sucederam, a América do Sul já estava entrelaçada por uma rede de caminhos que atravessavam florestas e montanhas, conectando diferentes povos e culturas. Entre essas artérias de comércio e cultura, destacam-se os "Caminhos de Peabiru", trajetos de fundamental importância na história do continente, chamado de Abya Yala pelos povos indígenas, antes da imposição dos nomes dos colonizadores.

O Peabiru, uma palavra de origem tupi que significa "caminho gramado", era um conjunto de trilhas que se estendiam por cerca de 3.000 quilômetros, desde os atuais litorais do Brasil até as regiões andinas do Peru, cortando através do Paraguai e de partes da Argentina e da Bolívia. Sendo uma das mais notáveis rotas de comércio e intercâmbio cultural pré-colombiano, esse caminho permitia o fluxo de mercadorias, como conchas do mar, plumas exóticas, ouro e outros metais preciosos, além de ser uma via para a disseminação de conhecimentos e rituais.

O significado do Peabiru transcende a sua função prática. Para muitos povos indígenas, essas trilhas eram de natureza sagrada, formando rotas de peregrinação e ligação entre diferentes esferas do cosmos. Elas refletem a profunda conexão espiritual que essas culturas tinham com a terra e evidenciam a complexidade e avanço das civilizações pré-colombianas.

Do litoral de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, o Caminho de Peabiru subia a Serra do Mar em seu trajeto até Cusco, no Peru - Sec. Des. Sustentável e Turismo

Além do mais, o Peabiru desempenhou um papel crucial durante os primeiros dias da colonização europeia, servindo de guia para os colonizadores que buscavam penetrar no interior do continente em busca de riquezas e almas para converter. O caminho de Peabiru evidenciou um sofisticado sistema de organização social e territorial que os europeus, muitas vezes, ignoraram pela imposição de suas próprias estruturas e nomes.

Hoje, os resquícios desses caminhos são patrimônios arqueológicos e antropológicos, testemunhando séculos de história antes da chegada dos colonizadores. Preservar e estudar os caminhos de Peabiru é crucial para compreender a rica tapeçaria de culturas que compunham a Abya Yala e reafirmar a complexidade dos povos indígenas, seus legados e direitos, muitas vezes invisibilizados pela história "oficial".

A redescoberta e valorização do Peabiru, portanto, não são apenas sobre reconectar pontos num mapa, mas sim sobre reconhecer e celebrar a pluralidade de histórias e saberes que constituem a identidade sul-americana. O respeito e a integração desses caminhos à narrativa histórica continental é um passo essencial na reconciliação com um passado muitas vezes esquecido e na construção de um futuro mais inclusivo e consciente de seu legado ancestral.

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