Siga a folha

Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

O juruá e a destruição da Ka'aguy ovy

A mata atlântica é um espaço sagrado, morada de Ñanderu, o criador da vida

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Mesmo diante do colapso climático, muitos ainda insistem em negar os efeitos dos sistemas de exploração. Hoje, com Tupã Mirim, compartilho um pouco da cosmologia guarani.

"O guarani é um grande conhecedor da Ka’aguy ovy, que o juruá (não índígena) chama de mata atlântica. Ka’aguy ovy é um espaço sagrado, é a morada de Ñanderu, o criador da vida. A destruição da Ka’aguy ovy pelo juruá vem sendo acompanhada por nós, povo guarani, há muito tempo. O Yvy rupa, como chamamos o território tradicional guarani, vem sendo loteado e desmatado, gerando o esgotamento dos recursos naturais da Ka’aguy ovy.

Hoje, temos acompanhado o juruá se mobilizando para resolver os problemas ambientais criados por seu modelo de desenvolvimento. Para o guarani, não é novidade o que vem acontecendo. Os Xeramoĩ, que são nossas autoridades espirituais, já nos alertavam há muito tempo que um dia o juruá iria perceber as consequências que suas atividades vêm trazendo ao meio ambiente. Por causa disso, a natureza vem enviando sinais em forma de secas, enchentes, furacões e mudanças climáticas.

Pôr do sol na mata atlântica - Arquivo pessoal

O mundo juruá trata da natureza somente como um bem capital. Nossos antepassados nos ensinaram que os recursos da natureza devem ser usados com sabedoria. Os juruás que poluem os rios e derrubam as matas não estão sendo sábios, porque comprometem o equilíbrio da vida em prejuízo de todos. Por isso, somos contrários à maneira como o juruá vem tratando da natureza.


Os Xeramoĩ nos dizem que os animais são sagrados porque possuem um ser divino dentro de si; que o homem não pode ser dono da água porque a água pertence a todas as formas de vida; que o guarani deve respeitar os animais e os rios porque servem à criação e fornecem o alimento de nossas famílias.

Aprendemos que a chuva que cai na terra, enviada por Ñanderu, vem para alimentar a vida e limpar as impurezas do mundo. A água é parte importante de nossas cerimônias religiosas, como o Yy Ñemongarai, o batismo de nominação guarani.

O guarani respeita a criação; o juruá ainda não aprendeu a respeitar, por isso a natureza está dando sinais de alerta. O guarani contempla as belezas da natureza; o juruá não aprendeu a apreciar. Nossos Xeramoĩ sempre nos têm falado que os problemas ambientais atuais não serão resolvidos pela ciência do juruá, e sim pela consciência da obra de Ñanderu. Para isso, nossos Xondaro, que são os guardiões da Opÿ (casa de reza), com a sabedoria transmitida por nossos Xeramoĩ, saberão transmitir ao juruá a forma guarani de conviver em harmonia com a natureza, trabalhando juntos para preservar a Ka’aguy ovy em benefício da vida e de todos os povos."

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas