Dólar dispara e fecha em R$ 5,59 com ruídos na política fiscal e disputa no mercado

Real registra pior desempenho entre moedas globais mesmo em dia positivo no câmbio no exterior

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São Paulo

O dólar registrou forte alta de 1,50% e fechou cotado a R$ 5,5906 nesta sexta-feira (28), em dia de volatilidade no mercado local e em meio a preocupações recorrentes sobre o cenário fiscal do Brasil. Com o fechamento desta sessão, a moeda americana renovou seu maior valor nominal desde janeiro de 2022.

No acumulado do mês de junho, o dólar registrou alta de 6,48%. No ano, a moeda americana registra alta de mais de 15% ante o real.

Nesta sexta, último dia útil do mês, houve uma disputa entre agentes de mercado pela formação da Ptax, uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve como referência para a liquidação de contratos futuros.

No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).

A disputa pela Ptax impulsionou as cotações do dólar no Brasil, ainda que no exterior a moeda americana tenha apresentado baixa. A maior parte das moedas emergentes, como o rand sul-africano e o peso chileno, registrou valorização em relação ao dólar. O real, no entanto, amargou o pior desempenho tanto entre as emergentes quanto entre as principais moedas do mundo.

O persistente desconforto fiscal no mercado e os ruídos entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Banco Central (BC) também seguem pesando contra os ativos locais.

No início do dia, Lula voltou a questionar o patamar da taxa de juros no Brasil e a criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

"A taxa de juros de 10,50% [ao ano] é irreal para uma inflação de 4%. Isso vai poder melhorar quando eu puder indicar o presidente [do Banco Central]", afirmou o presidente em entrevista à rádio O Tempo, durante sua passagem por Minas Gerais.

O presidente também voltou a negar a associação entre a subida do dólar e uma declaração sua em entrevista ao UOL, na quarta-feira, em que ele colocou em dúvida a necessidade de efetuar um corte de gastos para melhorar o equilíbrio fiscal.

Cédula de um dólar
Nos primeiros anos do real, o dólar custava menos que R$ 1 - Gabriel Cabral/Folhapress

"Tem especulação com derivativo para valorizar o dólar e desvalorizar o real, e o Banco Central tem que investigar isso. Se o presidente da República que for eleito não puder falar, quem vai poder falar? O cara que perdeu? O presidente do Banco Central?", afirmou Lula.

Já no fim da manhã, Campos Neto afirmou que ajustes fiscais muito focados em ganho de receita são menos eficientes e podem ter como resultado menor investimento, menor crescimento econômico e inflação mais alta.

O presidente do BC disse, ainda, que a desconfiança sobre as contas públicas impacta os juros de longo prazo e as expectativas de inflação.

À tarde, durante evento em Juiz de Fora (MG), o petista disse que não fará ajuste fiscal que atinja o "povo trabalhador e pobre" do país.

"Ah, dizem que é importante se fazer ajuste fiscal, que o salário mínimo está alto. Que alto? Mínimo é mínimo", disse Lula, que foi aplaudido pelos presentes.

A desvinculação entre o salário mínimo e benefícios como auxílio-doença, abono salarial e seguro-desemprego é discutida pela equipe econômica como forma de reduzir despesas. Mas Lula, em diferentes momentos nos últimos dias, criticou propostas nesse sentido.

"As falas de Lula não dando o respaldo necessário à equipe econômica no ajuste fiscal, sempre fazendo contrapontos à necessidade de ajuste, trazendo a possibilidade de aumento de receitas, que basicamente é aumento de impostos... Isso é muito pesado", diz Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Dados divulgados pelo Tesouro Nacional nesta semana indicaram que, em maio, as contas do governo central acumularam déficit de R$ 61 bilhões. Foi segundo pior resultado para o mês na série histórica, iniciada em 1997, em um quadro influenciado pelo pagamento do 13º aos beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e as despesas extras para enfrentar a calamidade no Rio Grande do Sul.

Com isso, as finanças públicas reverteram o quadro positivo observado nos primeiros quatro meses e agora acumulam um déficit de R$ 30 bilhões no ano.

"As últimas semanas foram marcadas por um intenso processo de desvalorização da moeda brasileira, que parece ter ganhado uma dinâmica mais contundente ao longo dos últimos dias, com uma reação desproporcional do mercado em relação ao cumprimento da meta fiscal para 2024", afirma André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.

Nesta sexta, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, demonstrou preocupação com a desvalorização do real, mas não indicou intervenção do BC no mercado de câmbio, atitude que passou a ser considerada pelo mercado após a forte desvalorização do real nas últimas semanas.

"A gente vai estar sempre olhando se há algum tipo de descolamento muito fora daquilo que está acontecendo com os nossos pares e o restante do mercado global, se existem algumas janelas ou questão de disfuncionalidade na curva ou na própria liquidez", disse.

No exterior, investidores repercutiram novos dados de inflação nos Estados Unidos que mostraram desaceleração da alta de preços no país. O índice PCE, o mais acompanhado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para suas decisões sobre juros, caiu para 2,6% em maio, após ter avançado 2,7% em abril.

"Os dados foram positivos, mas continuam acima do desejado. A desaceleração da economia e essa tendência inicial de arrefecimento da inflação ainda não são suficientes para que o Comitê de Política Monetária dos EUA, o Fomc, inicie o afrouxamento monetário. Vale a pena ressaltar que o mercado de trabalho segue resiliente", afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Na Bolsa brasileira, o Ibovespa caiu 0,32%, aos 123.906 pontos.

Com Reuters

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