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Na Folha desde 2004, é formado em direito e em filosofia na USP, foi editor de Tendências / Debates, Opinião, Ilustríssima e Núcleo de Cidades, além de secretário-assistente de Redação

No caso Neymar, Bolsonaro reforça discurso do 'ela pediu'

Presidente deveria assistir a animação didática usada pela polícia britânica

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Neymar tem 27 anos e uma poupança que pouquíssimas pessoas acumularão durante a vida inteira, mas muita gente insiste em tratá-lo como criança hipossuficiente. 

Jair Bolsonaro (PSL), por exemplo, ao dizer que acredita no jogador, classificou o craque como “um garoto que está num momento difícil”.

Momento difícil, vá lá. Não é fácil para ninguém ver-se acusado de estuprar outra pessoa. Mas “garoto”?

O presidente não explicou por que se convenceu com a versão de Neymar, mas uma frase incompleta oferece indícios do que seria o seu, digamos, raciocínio: “A mulher atravessa o continente, um montão de coisa acontece e ela quer...”.

Bolsonaro parou por aí. Nem precisava continuar, pois a conclusão do pensamento machista é bem conhecida: “se ela foi até lá, não pode reclamar; estava pedindo; queria o quê?”. 

Infelizmente, ainda é bastante comum esse tipo de confusão em torno do conceito de sexo consentido. Para tentar explicá-lo, a polícia britânica divulgou há alguns anos uma animação muito didática que deveria ser vista pelo presidente brasileiro.

 

No vídeo, compara-se sexo a uma xícara de chá. Se uma pessoa oferece a bebida a outra, e esta aceita, houve consentimento. Se ela diz que não quer, então é melhor nem preparar a infusão. Simples, não?

E se uma pessoa disse que queria uma xícara de chá, mas mudou de ideia enquanto a água fervia? Bem, também aí ninguém pode forçá-la a beber chá. A pessoa pode, inclusive, desistir após começar a beber, deixando a xícara pela metade. Como o narrador explica, por mais chato que seja perder tempo aquecendo a água, isso não dá a ninguém o direito de obrigar outra pessoa a tomar chá.

O caso envolvendo Neymar está por ser esclarecido. Mas algumas coisas são certas: uma mulher não é obrigada a tomar chá só por ter ido a Paris com a intenção de ingerir a bebida, uma mulher não pode ser obrigada a tomar chá sem adoçante e uma pessoa não tem o direito de bater em outra se, digamos, a temperatura da água não subir.

Cena de vídeo utilizado pela polícia britânica para explicar quando há consentimento ou não - Reprodução/YouTube

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