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Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

O poder no Brasil está em guerras

Explodem conflitos no sistema de Justiça, entre elites e facções bolsonaristas

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Há conflitos intensos entre grupos que ganharam poder a partir de 2013, quando começou o colapso da esquerda e do establishment político. A eleição de 2018 ainda não contribuiu para o assentamento de um novo bloco de poder.

 

Há embates que envolvem o sistema de Justiça (Judiciário, procuradores), a Lava Jato e o Congresso. 

Outros envolvem evangélicos fundamentalistas, militares, seitas bolsonaristas, filhos do capitão e partes do governo. Ou, então, elites econômicas ultraliberais e outras de liberalismo mais brasileirinho. Faltam coordenação política e administrativa ao governo, que de resto tem escassa articulação com grupos socioeconômicos organizados. Há desordem no poder

Explodiu o conflito entre o partido da Lava Jato e o Supremo, que tomou decisão que facilita a absolvição de corruptos, dizem procuradores. O embate teve desdobramentos.

Parte do Senado ressuscitou a CPI da Lava Toga, para investigar abusos do Judiciário, mirando o Supremo, atacado também pelo PSL. 

O presidente do Supremo, Dias Toffoli, quer inquérito contra “caluniadores” do STF, mirando procuradores e seitas digitais. 

A procuradora-geral Raquel Dodge estava em conflito com lava-jatistas por causa da fundação privada que queriam criar com dinheiro de multa da Petrobras, entre outros problemas. Mas também 
reagiu ao inquérito de Toffoli.

Transbordamentos do sistema de Justiça, tolerados quando afogavam mais o PT, agora são motivo de disputa de poder.

Há disputa caótica por partes do governo, em especial daquelas que não estão sob comando ou vigilância militar. Os generais, mais pragmáticos, querem formar Jair Bolsonaro e criar um cordão sanitário para os filhos do presidente, evangélicos fundamentalistas e extremistas, em particular no MEC e no Itamaraty.

Há incômodo entre elites econômicas, empresários e finança, que desde 2015 apoia um programa liberal, “mas não muito”, no caso de parte delas. Todas querem a reforma da Previdência e o desmanche da lei trabalhista. Mas há quem desconfie da abertura comercial e da reforma tributária.

Enquanto pelo menos a Previdência não passa, a tolerância silenciosa, em público, é quase geral nessas elites, apesar de rumores sobre a “falta de foco” de Bolsonaro e escaramuças. O agronegócio racional teme fundamentalistas, como no Itamaraty, potenciais criadores de caso com clientes como chineses e islâmicos.

A militância digital, núcleo fundador do bolsonarismo, reaviva seu programa de agitação e propaganda nas redes insociáveis.

Por um lado, a demonização de um inimigo do povo (“esquerda” etc.) mantém o moral das tropas. Por outro, o ânimo de hordas virtuais pode ser um último recurso em caso de baixa de prestígio do presidente e meio de pressionar Congresso.

As redes seriam um imenso “tribunal do aeroporto” (o esculacho de autoridades em saguões e aviões), embora esse tiro crie tensão política daninha e possa sair pela culatra, como se viu no fiasco do PSL na Assembleia Legislativa paulista. O caos e o laranjal desmoralizam o PSL do presidente.

A esta altura, Bolsonaro não tem coalizão no Congresso, apesar de nomear gente de vários partidos como seus líderes parlamentares. Rodrigo Maia, presidente da Câmara improvisado premiê, tentará pacificar ânimos entre os Poderes neste fim de semana.

Como não há oposição, comando unificado, pragmatismo e clareza de rumo poderiam atenuar a barafunda. Eis a questão.

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