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Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Grandes obras de Bolsonaro: facilitar a corrupção e criar feudos bárbaros no país

Gestão esvaziou a fiscalização das leis ambientais e incentivou grileiros e garimpeiros

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Jair Bolsonaro não foi capaz de inaugurar muito mais do que pinguelas, bicas e metros de asfalto. Mas tem grandes obras na sua ficha corrida. Ataca e enfraquece instituições de controle do poder público e privado. Mais do que isso, favorece uma espécie de feudalização do país.

Desmoraliza e manipula a Polícia Federal. Limitou na prática o poder do Coaf de dar alertas sobre falcatrua financeira, com a colaboração do Judiciário, aliás. Colocou paus mandados na Procuradoria-Geral. Com sua conivência, o sistema político, esquerda inclusive, se aproveita de uma reforma necessária do Ministério Público (MP) a fim de facilitar a interferência em investigações. Se não for contido, nomeará uma bancada no Supremo. A família Bolsonaro procura ainda criar um sistema de espionagem agregado ao departamento de propaganda, o tal gabinete do ódio.

Essa obra de destruição conta com a conivência do sistema político, desde 2015 interessado em controlar, em causa própria, o MP contaminado pelo salvacionismo dos lacerdistas e autoritários da Lava Jato.

Além disso, os líderes do semiparlamentarismo podre em vigor desde 2015 procuram se eternizar no poder por outros meios. Não tem a ver diretamente com as obras de Bolsonaro, mas convém prestar um pouco de atenção nisso.

Há uma nova fase da fragmentação que criou tantos pequenos partidos negocistas, comandadas não raro por chefetes ou líderes de gangue. É a feudalização dos lordes e duques das emendas. O aumento torto do poder sobre o Orçamento e outros financiamentos públicos da política privada facilitam a reeleição de quem domina a distribuição desses recursos. Quanto maior essa privatização, maior pode ser indiferença dos chefetes a partidos e a pressões sociais. A decadência ou o fim das legendas maiores facilitou a feudalização.

A terra arrasada favorece as cargas da cavalaria do bolsonarismo, outros entrincheiramentos de interesses.

Bolsonaro não destruiu o grosso da lei ambiental, embora tenha esvaziado instituições do setor. Mais do que isso, incentivou o descaramento de agro ogro, grileiros, garimpeiros e hordas similares, que ocuparam tanto terras de fato como o terreno político-institucional. Se o país voltar a ter um governo, será difícil repelir essas invasões bárbaras.

Aconteceu algo parecido com a religião na política. A tentativa evangélica de ter mais representação é legítima; fazer da religião um assunto de Estado é outra história, assim como a apropriação de dinheiros públicos pela empresa pentecostal. Os evangélicos bolsonaristas querem ocupar parte do Estado por meio de cotas religiosas e solapando a laicidade.

Militares querem não apenas impor sua ideologia cafona, reacionarismos lavados na água suja das ideias de um filósofo de YouTube. Querem também ou principalmente dinheiro, com o que estão animados desde que Michel Temer lhes abriu as porteiras e Bolsonaro lhes deu o que pastar.

Privatização mais antiga, as empresas se entrincheiram nas suas proteções fiscais, tarifárias e de todo o sistema que protege as firmas maiores de competição. De “reformas”, quiseram saber das que esfolam o povo e que as deixam em paz, sem novos impostos, o ponto central do programa “Ponte para o Futuro”, tocado desde 2015.

Conter essa feudalização, renovar a ideia moribunda de República, será muito difícil, até porque o problema não para por aí. Por exemplo, está também na insubordinação das polícias ou no domínio cada vez mais tranquilo do território por milícias e facções (muita vez em conluio com a polícia), uma invasão bárbara desde cedo apoiada pelos Bolsonaro.​

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