Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Cabeça de Paulo Guedes está assando, mas não vai queimar agora

Deputados governistas veem ministro lento e querem assumir parte da economia

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Paulo Guedes foi convocado pela Câmara para explicar os dinheiros que mantém lá fora. Foram 310 votos a favor da malhação do ministro da Economia, 142 contra. Ainda que tenha cumprido todas as formalidades, Guedes vai aparecer na mídia e nas redes como o ministro ricaço que “não acredita no Brasil” e diz as barbaridades de costume sobre pobres. É um sinal de desprestígio e de que parlamentares querem tirar uma casquinha demagógica de um assunto que se tornou mais “pop” do que o desgoverno da economia.

Mas há outros sinais relevantes de que a cabeça de Guedes está assando, embora não deva ser queimada por agora. O ministro vale mais como pato manco vivo do que morto.

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, propôs lei para diminuir o ICMS sobre combustíveis e, assim, talvez, baixar os preços em alguns centavos. Lidera, pois, a campanha de Jair Bolsonaro para jogar a culpa da carestia nas costas dos governadores, embora esse projeto não seja do governo. É do governismo. Lira e companhia querem dar um jeito de aumentar a “capilaridade” de Bolsonaro, como dizem deputados, e melhorar as chances eleitorais da turma toda.

O ministro Paulo Guedes (Economia) chega ao senado para reunião com o presidente do senado Rodrigo Pacheco - Pedro Ladeira - 5.out.2021/Folhapress

Paulo Guedes, diz esse pessoal, é muito lerdo, confuso e não se deu conta da ansiedade crescente dos pré-candidatos à reeleição para o Congresso. Lira conduziria a política da economia até 2022. Além do caso dos combustíveis, pretendem resolver logo o financiamento do substituto do Bolsa Família, o Auxílio Brasil, querem que o valor das emendas parlamentares dobrem em relação ao que está na proposta de Orçamento para 2022 e mais dinheiro para obras.

Na frente política, os deputados querem saber dos palanques de Bolsonaro, os arranjos políticos estaduais que organizem a campanha dos parlamentares. O ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), presidente do PP de Lira, tem sido criticado por se ocupar da filiação de Bolsonaro ao partido e de viajar demais sem acertar “nenhum palanque".

E Guedes com isso? Parlamentares dizem que: 1) dificilmente Congresso derruba ministro da Economia; 2) “o Planalto” e, em especial, Ciro Nogueira não querem barulho: querem tirar Bolsonaro do noticiário negativo a fim de ver se a popularidade dele melhora; 3) um substituto forte de Guedes teria de ser alguém de confiança de “o mercado”, o que pode ser um problema para o plano de aumentar a “capilaridade” do governo (uso de parte do Orçamento para a eleição).

Portanto, mais vale um Guedes pato manco do que um Roberto Campos, presidente do Banco Central, por exemplo. Pedro Guimarães, presidente da Caixa, de olho na cadeira vazia de Guedes, é tido como “fominha”, apesar de amigão de Bolsonaro, e alguém que cria arestas demais.

Sabe-se lá se o plano vai dar certo. Lira e Nogueira não evitam derrotas e derrubadas de vetos na Câmara, menos ainda no Senado, onde Bolsonaro tem oposição mais organizada e esperta, para nem contar o bloco dos insatisfeitos com a falta de pagamento de emendas. Lira, no entanto, ao que parece, resolveu assumir o programa de dirigir a aprovação do Orçamento de acordo com os interesses “da base” e de prestigiar Bolsonaro.

Os economistas da praça financeira escrevem em cada relatório que a economia, juros e dólar desandam por causa da “incerteza fiscal” (calote em precatórios, gastos com auxílio, com emendas etc.). Lira diz entre os seus que não vai chutar o pilar do teto de gastos, mas que “a sociedade” e “a base” querem um Orçamento com “preocupação social”. Se vai carregar Bolsonaro e até lhe dar um partido, precisa de compensação. Guedes ficou de lado, assando.

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