Encontrei a modelo mais linda que vi este ano em Icoaraci. E também um gênio da moda. Tomei o melhor negroni de 2021 numa certa Vila Container. Descobri uma hospedagem que faz a ponte entre os séculos 19 e 21 na travessa Campos Sales, e lá mesmo conheci o trabalho de um artista estupendo chamado Kambô.

"Égua!", dirão os belenenses que reconheceram os nomes e lugares que citei acima. Semana passada estive, claro, em Belém, e pude comprovar mais uma vez como esta é uma das capitais mais vibrantes culturalmente do Brasil.

Mas lá não é também o cenário do Círio de Nazaré, uma das manifestações religiosas mais fortes, lindas e importantes do mundo? Claro que é. E afirmo sem titubear que todo paraense tem muito orgulho disso.
Para além deste cartão postal, no entanto, tenho que defender que existe uma cidade incrível, moderna, voltada para o agora e... irresistível.

Antes de prosseguir, é preciso deixar claro que sou apaixonado por nossas tradições. O próprio Círio já foi tema de um dos textos mais emocionados que escrevi neste espaço. Porém, quando viajamos para os mesmos lugares várias vezes é preciso estarmos abertos para conhecer algo além do que nos oferecem as brochuras de turismo.

Nessa última visita a Belém, tive a sorte de ser acompanhado por uma jornalista que ama garimpar coisas diferentes na cidade onde cresceu: Trisha Guimarães, que publica suas descobertas no Instagram @acasacomoelae.

Foi um achado. Não que eu não conhecesse já o potencial de Belém. Seis anos atrás, fazendo uma reportagem, me deparei com grafites fantásticos: o trabalho de Éder Oliveira.

Em 2017, para celebrar o título de Capital Criativa da Gastronomia, concedido pela Unesco, estive lá também para experimentar das iguarias mais tradicionais (a maniçoba de dona Jerônima) às reinvenções mais modernas (o pastel de jambu de Solange Saboia). E aí tem a música: Rainer, Liège...

Este ano, fui também bastante a Natal, Rio Grande do Norte, e tive experiências parecidas. Pirei com a música de Luísa e os Alquimistas. Com as delícias de um novo bar chamado Severina. Com as obras de arte que vi no espaço multicultural de Crico Felix, o Iguales. Com a poesia que vi pelas ruas da capital potiguar.

E aqui mais uma vez nado contra o óbvio. Assim como é fácil "vender" Belém pela força do seu exuberante Círio, Natal (e todo o RN) é quase que exclusivamente associado à beleza de seu litoral, onde o vento literalmente faz a curva.

Tudo isso é de um valor inestimável, as raízes de nossa cultura, peças imprescindíveis nesse mosaico maravilhoso que traduz a alma do Brasil. Mas fora o que já conhecemos e amamos, existem nesses lugares culturas modernas e excitantes. E vale conhecer isso de perto.

O tal gênio da moda em Icoaraci, distrito de Belém, é o incomparável Labô, que já estampou capas das revistas de moda do mundo inteiro, causou furor no último SPFW, e mora numa casa simples, onde o quintal é a inspiração de suas criações vegetais.

A tal modelo é sua vizinha, atende pelo nome de @f1er6e, e é um dos rostos mais cativantes que encontrei nos últimos tempos. O negroni quase perfeito é do Muamba, e a tal hospedagem...

A Casa Amazônia é um trabalho de amor da Jô Alves e da Fernanda Stefani, que fazem a conexão ideal entre o passado e o presente de Belém. E, ainda, nesse enorme casarão reformado, há espaço para uma galeria que expõe artistas tão incríveis como o Kambô.

E é assim que eu quero sempre conhecer esse Brasil: com um pé reverenciando o passado, e outro explorando o futuro.