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Corpo do jornalista Ricardo Boechat é velado no MIS, em São Paulo

Velório aberto ao público começou à meia-noite desta terça (12); caixão foi recebido com palmas

O empresário Paulo Martinho (à esq.) no velório do jornalista Ricardo Boechat. - Jardiel Carvalho/Folhapress

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São Paulo

Centenas de pessoas prestaram homenagem ao jornalista Ricardo Boechat, cujo corpo foi velado no MIS (Museu da Imagem e do Som), na zona oeste da capital paulista, desde a madrugada desta terça-feira (12). O jornalista morreu na segunda (11), aos 66 anos, quando o helicóptero em que ele estava caiu na região do Rodoanel, na rodovia Anhanguera, em São Paulo.

A cerimônia foi aberta ao público e durou até as 14h, quando o corpo do jornalista foi retirado, sob fortes aplausos, para ser cremado numa cerimônia reservada para a família.

Entre políticos, jornalistas, artistas e fãs, centenas de pessoas passaram pelo local desde a chegada do caixão, às 23h20 de segunda, também sob uma salva de palmas dos presentes. 

Presidente do Grupo Bandeirantes, onde o jornalista trabalhava, ​​João Carlos Saad foi um dos primeiro a chegar. Disse que Boechat deixa um legado na profissão e afirmou que é preciso apurar as circunstâncias da morte —a empresa que fazia o transporte do jornalista de uma convenção farmacêutica em Campinas para a capital não tinha autorização para levar passageiros. ​

“Quando a gente acabar de apurar este caso, vamos encontrar um fio condutor entre essas tragédias que vêm acontecendo. São sempre coisas que não estão adequadas. Desde uma barragem que não está adequada, um dormitório e de possivelmente um helicóptero que não estava adequado”, disse Saad.

Acompanhada das duas filhas do casal e de Mercedes, 86, mãe de Boechat, Veruska Boechat agradeceu as condolências pela morte do marido. “Ele foi o ateu que mais praticava o amor ao próximo”, disse a viúva. Em uma rede social na qual publicou uma foto dos dois, afirmou que a segunda-feira foi o pior dia de sua vida.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), lamentou a morte do âncora do Jornal da Band, a quem chamou de "grande defensor dos princípios da democracia" no Brasil.

“Uma perda muito grande para todos os jornalistas que acreditam no valor da liberdade de imprensa e da qualidade da imprensa brasileira”, disse Doria no MIS. Segundo o governador, a amizade entre os dois se estendeu pelas últimas quatro décadas e envolvia o gosto por futebol.

"[Era uma pessoa] fraterna, adorável, amigo dos amigos, solidário e de bons princípios". "Uma pessoa com o sentimento de justiça muito grande. Simples nos seus gestos e de muita grandeza nas atitudes."

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), afirmou que vai consultar a família para criar um espaço na cidade em homenagem a Boechat —ele não especificou o que exatamente será. 

"Boechat era uma grande referência não apenas para o jornalismo, mas para todos nós. É uma perda para o jornalismo. É uma perda pra democracia, que é o jornalismo livre e isento que garante a democracia", afirmou o prefeito.

O velório também recebeu ouvintes e espectadores de Boechat. O administrador Gustavo Batista Camilo Aguilar do Prado, 42, veio de Guarulhos, na Grande São Paulo, para acompanhar o velório. Ele se diz admirador do trabalho do jornalista.

​Contou que em novembro de 2014 mandou uma mensagem de texto para Boechat —em um número de celular que o jornalista divulgava para o público— com uma sugestão de pauta e que, minutos depois, recebeu uma ligação inesperada do jornalista, interessado na história.

Desde então, trocou mensagens com o âncora do Jornal da Band. A última foi em agosto de 2018, que Prado ainda exibe no celular.

O velório reuniu sobretudo colegas de Boechat nos diferentes veículos em que ele trabalhou ao longo de mais de quatro décadas de carreira.

Otávio Mesquita lembrou da conexão por meio do humor. “Às vezes ele me ligava e falava: 'Otávio, eu vi o teu programa ontem, você fez isso, aquilo'. A gente tinha uma relação muito divertida porque o meu lado cômico excessivo tem um pouco a ver com o dele. Eu devo muito a ele.”

Para Ana Paula Padrão, poucos colegas "honraram tanto a profissão e levaram tão longe o compromisso de fazer do jornalismo um bem precioso, comum, um bem da sociedade, um bem de todos nós". Apontando a falta do âncora, ela apontou que, em tempos de fake news, "a gente precisa de jornalismo levado muito a sério".

Sheila Magalhães, com quem o jornalista dividia a bancada, falou da dificuldade de noticiar a morte de Boechat. "Foi a notícia mais difícil que eu já dei na minha vida, noticiar a morte de um amigo."

Sergio Groisman disse que Boechat "encontrou no jornalismo uma possibilidade de expressão popular". "Tudo o que a gente queria ouvir como opinião, perguntas, ele fazia em nome do povo brasileiro."

A última entrevista de Boechat na televisão foi para Amaury Jr., que contou que os dois se maquiavam juntos antes de entrarem no ar. Uma de suas últimas conversas foi sobre depressão. "Ele brincava: 'Vamos colocar [o ansiolítico] Rivotril na caixa-d'água da cidade, porque todo mundo tem algum nível de depressão.'" 

Milton Neves brincou com a dualidade de Boechat como figura pública. "Tenho visto muita foto dele na internet. O cara mais carrancudo de opinião da imprensa brasileira, e em todas as fotos ele está sorrindo."

O colunista da Folha José Simão, que conversava diariamente com Boechat no programa matinal de rádio que ele ancorava na Band, fez um discurso emocionado. "O day after é sempre pior", resumiu.

"Foi uma química instantânea desde o primeiro dia. Eu tinha aquele humor escrachado. Boechat é carioca da gema, um gozador por natureza. É uma dupla que jamais será retomada."

Fernando Mitre afirmou que quando Boechat assumiu a ancoragem do Jornal da Band e da rádio BandNews,  há 12 anos, começou uma nova fase do jornalismo brasileiro. “Um capítulo que estava no auge e que foi interrompido por essa tragédia."

O diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes definiu Boechat como "jornalista completo": apurava a notícia, escrevia, editava, exibia e, principalmente, comentava. "Perder um jornalista como ele é uma perda irreparável. Não tem como qualificar."

Os chefs  Erick Jacquin e Henrique Fogaça, que participam do programa Masterchef, homenagearam o colega de emissora. “Muito triste. Não dá para acreditar ainda. Não caiu a ficha. Hoje fiquei o dia todo abalado”, disse Fogaça.

O ACIDENTE

Segundo testemunhas relataram ao Corpo de Bombeiros, a aeronave Bell Jet Ranger, um modelo de 1975, tentou fazer um pouso de emergência em uma alça de acesso do Rodoanel à rodovia Anhanguera, na altura do quilômetro 7, sentido Castelo Branco, próximo a um pedágio —local das vias com menos fluxo de veículos.

Na descida, no entanto, ela se chocou com um caminhão que tinha acabado de sair do pedágio, na faixa do Sem Parar (pedágio expresso). Não se sabe ainda qual o problema que a aeronave apresentou, mas foi a colisão que fez o helicóptero pegar fogo.

O motorista do caminhão foi socorrido e teve ferimentos leves, segundo a Polícia Militar.

De acordo com a Abraphe (Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero), o piloto tinha experiência de quase duas décadas como comandante e "seguiu à risca as doutrinas de segurança até o último momento, na tentativa de preservar a vida da tripulação a bordo do helicóptero".

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