'Tim Maia' de Taboão canta na avenida Paulista
Jonathan Neves, 30, sósia do cantor, faz sucesso há três meses na via mais famosa de SP
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“Eu preciso te encontrar/ Te encontrar de qualquer jeito/ Pra sentar e conversar/ Depois de andar de encontro ao vento”.
“Quebra tudo, Tim Maia!”, grita o passageiro do ônibus parado na altura do número 2.073 da avenida Paulista, no Conjunto Nacional. No banco de trás, outro retruca: “Tim Maia já morreu!”.
Barrigão empinado para a frente, braços para o alto, na ginga do soul, Jonathan Neves, 30, nascido e criado em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, onde vive até hoje, não tem apenas o porte, a coreografia e os trejeitos mas também o vozeirão de Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia, cantor, compositor, maestro e instrumentista que morreu em 1998, aos 55 anos.
Há três meses, o sósia perfeito de Tim Maia faz o maior sucesso na calçada em frente à Caixa, ao lado de uma banca de jornais, onde se apresenta nas tardes de sábado. Aos domingos, quando a avenida é fechada ao trânsito, ele monta o show “Tim Maia na avenida”, na esquina da rua Itapeva.
Gente de todas as idades, gêneros e classes sociais acompanha o cantor, lendo as letras nos celulares, tirando selfies e fazendo vídeos para provar que “Tim Maia” está vivo.
Também ele pendurou um celular ao lado do microfone para lembrar o repertório do criador do soul e do funk na música brasileira, e canta horas seguidas, com breves intervalos, enquanto tiver plateia, até o entardecer.
“Valeu, obrigado!”, agradece quando alguém pinga dinheiro na caixinha de madeira, mas não revela quanto ganha por dia. Não deve ser pouco. A cada música, pelo menos meia dúzia de pessoas contribui com pequenos valores.
Desconfiado como o original, não quer contar qual é o seu peso, mas reconhece que está precisando fazer uma dieta, na breve conversa com a reportagem antes de começar seu espetáculo, às 14h em ponto. Só admite que está em torno dos 160 kg, passando a mão na barriga.
Filho de pai motorista de ônibus e mãe diarista, com ensino médio completo, Jonathan trabalhava como ajudante numa empresa de logística. Foi demitido em 2016 e resolveu cantar na avenida.
“Já tinha ambição de ser cantor, mas só cantava em casa para os amigos. Antigamente, no começo, eu cantava músicas do Renato Russo e da Legião Urbana. Tenho facilidade para interpretar vozes...”
Por isso, de tanto o pessoal sugerir, ele resolveu incorporar Tim Maia em julho e passou a se destacar entre as centenas de cantores anônimos que invadem a avenida Paulista nos finais de semana numa alegre cacofonia musical.
Assistiu a alguns vídeos do carioca e ficou empolgado com um musical da Globo em que Tim Maia cantava “Azul da Cor do Mar”, acompanhado de grande orquestra.
Para assumir o papel, nem precisou engordar. “Eu sempre tive esse porte avantajado...” Solteiro, sem filhos, logo criou uma pequena legião de fãs que adoram “esse Tim Maia igual ao outro” e começou a ser convidado para se apresentar em casas e empresas após colocar seu telefone (11-94046-4330) numa plaquinha pendurada no microfone.
Até agora, só se apresentou uma vez na televisão e não gostou. Não pretende voltar. “Desagradei”, ele diz, fazendo mistério. Nem se for convidado pela Globo? “Não”.
Jonathan/Tim prefere continuar sua carreira de cantor de rua e de salão, “para dar conforto à família e investir nos equipamentos”. Fora da rua, seu sonho é se apresentar num grande teatro. Por enquanto, quem quiser ouvi-lo pode encontra-lo também no Facebook e no Instagram.
Quem fecha os olhos na calçada da Paulista pode imaginar que “Tim Maia” é acompanhado por uma orquestra. O som é carregado em três malas e fica aos cuidados do técnico Ronaldo Ferreira, também professor de música –um multi-instrumentista, como está no seu cartão de visitas.
Robusto como o chefe, Ferreira não para um minuto de operar ajustes nos aparelhos para não levar bronca do cantor, como o verdadeiro Tim Maia fazia nos seus shows, sempre reclamando do retorno e da equalização.
“Esse daí é até mais chato do que o outro”, brinca o parceiro inseparável de Jonathan.
Aos poucos, vai juntando mais gente, que o aplaude nos breves intervalos, para tomar uma cervejinha no gargalo ou um energético. Catadores de latinhas param o serviço, casais se abraçam, patinetes fazem um pit-stop. Às 16h a calçada já está congestionada.
Com problemas de coluna por causa do peso, o artista popular canta o tempo todo em pé e não tem nenhum banquinho para descansar.
“Faz de conta que ainda é cedo/ Tudo vai ficar por conta da emoção/ Faz de conta que ainda é cedo/ E deixa falar a voz do coração”. Na avenida Paulista, Tim Maia ainda vive.
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