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Descrição de chapéu Obituário Eduardo Albarella (1940 - 2020)

Miss Biá foi drag queen pioneira e 'Hebe das gays'

Morta na quarta-feira (3) devido à Covid-19, persona de Eduardo Albarella foi uma figura atemporal

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São Paulo

Miss Biá gabava-se em dizer: “Não tem ninguém antes de mim”.

Pioneira do transformismo num tempo em que não havia a sopa de letrinhas LGBTI, era respeitada dentro e fora dos palcos das casas noturnas paulistanas em que subiu aos 21 anos e permaneceu por quase seis décadas.

A personagem era a drag queen de Eduardo Albarella, um paulistano culto, viajado e que se tornou estilista e maquiador de gente famosa.

Entre as artistas mais chegadas, costumava dizer que os homens, ao olharem para as mulheres, queriam ver uma linda paisagem. Foi isso que ele fez de sua Miss Biá, nome dado em homenagem a uma música de Carmem Miranda (1909-1955).

Biá unia vestidos e maquiagens impecáveis, ao estilo da atriz Gina Lollobrigida, à educação e porte que faziam dela uma figura atemporal. Cantava ao vivo, costume pouco seguido pelas drags de hoje.

“Foi mais que uma amiga, uma mãe”, diz Salete Campari, 53, uma das drags mais conhecidas da noite paulistana. Ela viu Miss Biá pela primeira vez no palco da Nostro Mondo, boate que marcou as décadas de 1970 e 1980 sob o comando da também talentosa e exigente condessa Mônica (1942-1989).

Miss Biá levou um sofá ao palco da boate e personificou por anos a apresentadora Hebe Camargo (1929-2012) em entrevistas hilárias com figuras como o ator Paulo Autran (1922-2007) e a ex-ministra da Cultura e atriz Regina Duarte. “Meus olhos brilharam. Foi naquela noite que eu decidi que queria ser artista”, conta Campari.

Hebe e Albarella foram amigos. Era ele quem costurava os vestidos ousados da rainha da televisão em seus programas na extinta TV Tupi e na Bandeirantes.

Miss Biá também foi a responsável por proteger as colegas das operações contra a população trans feitas a mando do delegado José Miguel Richetti na década de 1980.

Campari diz que Albarella teve uma ideia. “Ela convidou o Richetti para um assistir a um espetáculo. E ele gostou tanto que mandou ninguém mexer com as meninas da Biá.”

Fazia de seu amplo apartamento, na avenida Vieira de Carvalho, na República, centro da cidade, um ponto de encontro para bons papos e também para rezas.

Todas as segundas-feiras promovia terços católicos que, vez ou outra, eram frequentados até por padres. Era a fé, dizia, que o mantinha disposto a nunca descer do salto apesar da idade avançada.

Respeitava os posicionamentos da mãe e, nos anos em que morou com ela, preferia se transformar em Miss Biá num segundo apartamento que adquiriu, onde também abrigou muitos artistas LGBTI.

Antes da pandemia, Albarella era visto nos palcos da boate Danger. Amava tomar um café e comer um pastel após os espetáculos nas madrugadas.

Chegou a ser convidado por Campari para passar uma temporada no sítio da amiga, em Juquitiba (Grande SP), para fugir do vírus, mas preferiu ficar em casa.

No final de maio, sentiu-se mal, passou a ter dificuldades para se alimentar e foi internado. Não resistiu às complicações da Covid-19.

A estrela máxima dos palcos paulistanos fechou os olhos nesta quarta-feira (3), aos 79 anos.

Um dia antes, foi a vez de Vânia, 70, também drag queen que morava num apartamento alugado que pertencia a Albarella no mesmo prédio em que o artista morava.

O artista deixa irmão, sobrinhos e uma legião de amigos e fãs.

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